2062 (2011)

2062

Personagens
Patrícia; 72 anos
Lucas; 80 anos
Irene; 17 anos
Francisco; 19 anos

Cenário: uma cadeira de balanço em um canto, ao lado de latões de ferro. Um prédio ao fundo.

(o prédio está pegando fogo; ouve-se sirenes e explosões; Irene e Francisco entram correndo; eles vestem roupas clássicas: ela, vestido florido e meigo e ele, social jovem –  à la Romeu e Julieta)

IRENE
Você ouviu?

FRANCISCO
Ouvi. Você ouviu?

IRENE
Sim. O que disseram?

FRANCISCO
Não posso dizer. Você vai se assustar.

IRENE
Diga, diga. Eu te imploro.

FRANCISCO
(suspira) Todo mundo morreu.

IRENE
Como assim? Como, todo mundo?

FRANCICO
Todo o mundo. É o fim.

IRENE
O que você está dizendo, Francisco?

FRANCISCO
Eles não avisaram antes para não alarmar pânico. Nós vamos morrer.

IRENE
Eu não entendo. O que é isso, Francisco? Pelo amor de deus.

FRANCISCO
Eu tô dizendo! É o fim do mundo. Atrasaram alguns cinquenta anos no cálculo. Mas tá acontecendo. Agora.

IRENE
Meu deus, Francisco.

(ele a abraça)

FRANCISCO
Vai ficar tudo bem. Vamos achar um lugar. (ele tenta correr, ela o segura)

IRENE
Não. Não vamos. (ela põe a mão em seu rosto) Eu amo você.

(ouve-se uma explosão perto; coisas caem dentro de cena; eles se beijam; música grandiosa)

FRANCISCO
Eu não me arrependo de nada, meu amor.

IRENE
Eu nunca me arrependerei de nada.

(Patrícia e Lucas entram correndo; são senhores que se vestem modernamente; ele pode ter um brinco na orelha e ela possui um corpo bem cuidado; ainda assim possuem os limites da idade)

PATRÍCIA
Vocês ouviram?

TODOS
Sim.

LUCAS
Patrícia!

PATRÍCIA
Lucas! O que disseram?

LUCAS
O mundo tá acabando!

PATRÍCIA
(se desespera) Ai, meu deus! Ai, meu deus! Santo deus! Deus. Ai, meu santo deus!

FRANCISCO
Vamos achar algum lugar. Venham conosco.

LUCAS
Não tem lugar nenhum, moleque. Nós vamos todos morrer. Essa merda deixou pra avisar em cima da hora.

PATRÍCIA
Tá meio atrasado, não? Falaram disso lá no começo do milênio.

IRENE
Eu te amo muito, meu amor! Nós nos encontramos na próxima vida.

FRANCISCO
Eu vou atrás de você pra sempre. (eles se beijam)

(Patrícia e Lucas ficam em silêncio, constrangidos)

PATRÍCIA
Lucas, o que vamos fazer? O que vamos fazer?

LUCAS
Eu não sei! Eu não sei!

IRENE
Eu te amo muito. Muito!

FRANCISCO
Eu também te amo muito! Você é a mulher que eu pedi a deus.

IRENE
E você é o homem que eu pedi a deus.

PATRÍCIA
Ora, por favor, vocês dois! Estamos á beira de um... de um... evento aqui. Ai, meu deus. Me dá um frio na barriga. Eu não quero morrer, Lucas. Faça alguma coisa.

LUCAS
O que você quer que eu faça? O que você quer que eu faça, Patrícia?

FRANCISCO
Venha, Irene. Nós vamos nos salvar.

IRENE
Pra onde, Francisco? Pra onde?

FRANCISCO
Eu não sei. Mas eu vou correr até o fim do mundo com você. Nossa história já teve um final feliz. E vai continuar até quando for possível!

IRENE
E eu vou estar ao seu lado, meu amor.

FRANCISCO
Querem ir com a gente? Vamos atrás de um lugar seguro.

PATRÍCIA
Não, não.

LUCAS
Iriamos atrapalhar.

FRANCISCO
Adeus! Boa sorte.

(eles saem apaixonados; Lucas e Patrícia se olham envergonhados)

PATRÍCIA
A juventude nova acredita nessas coisas.

LUCAS
No nosso tempo o negócio era mais na carne.

PATRÍCIA
Carnaval em Salvador, lembra? Ai, ai.

(ouve-se gritaria ao longe)

PATRÍCIA
Agora não tem mais festa.

LUCAS
(depois de uma pausa) Eu também amo você, Patrícia. Sempre amei.

PATRÍCIA
Por que você tá falando isso agora?

LUCAS
O que?

PATRÍCIA
Por que você tá falando isso agora, Lucas?

LUCAS
Nós vamos morrer.

PATRÍCIA
(silêncio; ela senta-se ao lado dele; diz calmamente e madura) Filho da puta. Agora? A gente teve tempo pra ter uma história igual a deles. E agora você vem tentar ser romântico? Eles vão viver menos tempo que a gente, e conseguiram mais do que muita gente que conhecemos.

LUCAS
No nosso tempo a história era diferente. O final feliz é pra ser diferente. Depois de uma grande repressão, pede-se liberdade exagerada. É fato. Eu vi no Fantástico, semana passada...

PATRÍCIA
Como foi que eles conseguiram voltar? Esses filhos da mãe.

LUCAS
Voltar onde?

PATRÍCIA
Os jovens. Como conseguiram voltar à toda essa coisas de... de...?

LUCAS
Do que?

PATRÍCIA
Eu não sei! À essa coisa antiga. Eu digo antiga, antes de nós. Aquele outro tempo. Dos teus avós.

LUCAS
Puxa vida, o que isso tem a ver?

PATRÍCIA
Olha pra eles, Lucas. Você viu? Quantos anos o menino tem? No máximo vinte. Eles se amam loucamente e não parece que inventaram esse sentimento todo de ontem pra hoje.

(por onde o casal saiu, ouve-se uma explosão; logo ouve-se gritos de Irene)

IRENE
Meu amor! Meu amor!

(outra explosão; silêncio; Patrícia se aproxima para ver melhor)

PATRÍCIA
Eles... morreram?

(Lucas também se aproxima)

LUCAS
(depois de uma pausa) Nós vamos morrer também.

PATRÍCIA
Cale essa boca, Lucas! Como você pode ser tão frio comigo? Você poderia ao menos fingir que tudo vai ficar bem? Me pegar no seu colo e me dizer que quer morrer comigo nos braços. Eles devem ter morrido um no braço do outro. É como um filme.

LUCAS
Do que você tá falando, Patrícia? Pelo amor de deus! Agora você quer romance? Você quer romance? Agora? Você quer que eu minta pra você?

PATRÍCIA
O mundo tá acabando, Lucas!  Sim, agora eu queria que você tivesse me dado um beijo num pôr do sol, Lucas. Agora eu queria. Eu queria ter me casado na igreja. Queria. Queria tudo.

(silêncio; constrangidos, desviam o olhar)

LUCAS
Você já assistiu aquele filme? “Histórias de amor duram apenas noventa minutos”?

PATRÍCIA
Velhíssimo.

LUCAS
Você amou muita gente, eu amei muita gente. As histórias são como...

PATRÍCIA
(interrompe) Eu me lembro do meu avô.

LUCAS
Ai, deus.

PATRÍCIA
Você lembra dele, Lu?

LUCAS
Não. Nostalgia.

PATRÍCIA
Você conheceu ele quando a gente estudou junto. Acho que em noventa e oito, ou noventa e nove. Lembra? Mil novecentos e noventa e nove. Puxa vida.

LUCAS
Eu encontrei com ele depois que a gente começou a ficar? 

PATRÍCIA
Não, depois que começamos a sair ele já tinha morrido faz tempo. Ele morreu em dois mil e treze. Ele só namorou minha avó. Sabia disso? Não tinha casado virgem porque o pai dele o levou num bordel uma vez. Mas minha avó casou virgem. (pausa) Pensando agora, eu queria que você tivesse sido meu único, Lucas. Parece ser mais limpo.

LUCAS
(ri) Que maluquice, Patrícia.

PATRÍCIA
Você não se arrepende de nada?

LUCAS
Me arrependo de não ter comido mais gente.

PATRÍCIA
É estranho ver um velho falando isso. Você não percebeu, Lucas? Nós estamos velhos! Velhos!

LUCAS
Pare de ser...

PATRÍCIA
É dois mil e sessenta e dois, Lucas! Acorde! Você vive no mundo da lua! Bem que minha mãe me dizia quando eu era mais jovem. No fim das contas os filhos da puta estavam certos, falando de amor. De que adianta agora o que você me deu?

LUCAS
Me deixa em paz, Patrícia! Pelo amor de deus!

PATRÍCIA
Nós não tivemos filhos. Não tivemos netos. Não fizemos nada!

LUCAS
Você não fez nada, eu fiz muita coisa na minha vida. Coisa que importa pra mim.

PATRÍCIA
Você o que? Fez o que? Putaria é o que você fez!

LUCAS
É. E foda-se. Só isso mesmo. Eu sou bicho. Nasci pra isso. E gostaria de morrer fazendo isso. Qual é o problema disso, Patrícia?

PATRÍCIA
Não combina com gente velha.

LUCAS
Falou aí, Madre Tereza.

PATRÍCIA
Vai te catar. Você é um filho da puta! Eu sou uma filha da puta! Dois velhos filhos da puta! Eu tenho saudade daquele estereótipo dos senhores da nossa época. Suspensório e bíblia. Eu teria me dado bem com aquilo.

LUCAS
Para com isso, Patrícia! Vamos morrer em paz, por favor. Senta aqui comigo. Eu te amo muito. (ela obedece vencida) Nós também tivemos uma história legal, Paty.

PATRÍCIA
Mas não é a história que eu queria. Exatamente porque eu também te amo, Lucas. Eu queria ter envelhecido com você desde sempre. Ter olhado só pra você. Ter tocado só em você. E queria que você tivesse me conhecido de verdade.

LUCAS
Mas não foi assim. Culpa das gerações. O que podemos fazer?

PATRÍCIA
Nós podemos ver o que o planeta pode fazer. Se autodestruir desse jeito. Não é horrível? Consegue olhar pro céu, Lu? Eu não consigo. Me dá aflição.  

(outra explosão; o celular de Lucas toca)

LUCAS
Eu pensei... eu pensei que tinham cortado o sinal. É possível?

PATRÍCIA
Atende.

LUCAS
(atende) Alô? (fica em silêncio um tempo) Oi. (pausa) É. Eu sei. Eu tentei te ligar.

PATRÍCIA
Quem é?

LUCAS
É a Camila. Ligou pra se despedir de mim. (no telefone) Você também foi muito importante na minha vida, Ca. Eu não queria que tivesse que ser assim. Eu... também te amo muito. Beijo. Vai tudo acabar rápido, me disseram. Adeus. Me desculpa por tudo. (desliga)

PATRÍCIA
Que ótimo, Lucas.

LUCAS
Não vai me ter crises de ciúmes agora, Patrícia!

PATRÍCIA
É disso que eu estou falando!

LUCAS
Ela fez parte da minha vida, Patrícia! O mundo vai acabar! Vai saber quanto tempo ainda temos? Ela queria se despedir, porque eu fui importante na vida dela por mais de dez anos, você sabe bem. Eu disse o que ela queria ouvir.

PATRÍCIA
Você também me disse o que eu queria ouvir?

LUCAS
Eu... (silêncio)

(o celular de Patrícia toca)

PATRÍCIA
Eu jurava que tinham cortado o sinal.

LUCAS
É possível?

PATRÍCIA
(atende) Alô? (silêncio) Oi. (pausa) Sim. Eu sei.

LUCAS
Quem é, Patrícia?

PATRÍCIA
O Gabriel.

LUCAS
Filho da puta! Desliga essa porra!

PATRÍCIA
Cale a boca, Lucas! Espere um pouco. (no telefone) Oi. Aham. Você também foi muito especial para mim. Fez parte da melhor parte da minha vida, Ga. Eu... também te amo. Muito. Me desculpa por algo, viu. Eu era jovem demais. Devia ter te conhecido agora. Adeus. Me disseram que tudo vai acabar rápido. Não se preocupe. Adeus. Te amo. (desliga)

(longo silêncio)

LUCAS
Merda.

PATRÍCIA
Muita merda, essa nossa vida.

LUCAS
Se eu soubesse que o fim do mundo fosse começar em São Paulo, eu teria corrido para a Amazônia. Pra ter mais tempo.

PATRÍCIA
Se esconder nos restos de árvores?

LUCAS
Ir morar com os índios.

(eles se olham e riem do absurdo; outra explosão bem próxima)

PATRÍCIA
A coisa que me dá uma nostalgia é as coisas de antes do que eu vivi. Estranho, né?

LUCAS
Eu não entendi.

PATRÍCIA
As coisas de antes. Os anos setenta e oitenta. Chacrinha. Cazuza. Elis. Não conhecemos nenhum deles. Não é estranho?

LUCAS
Que nostalgia besta.

PATRÍCIA
É. E antes? Você não pensa nisso, Lu? Antes disso? E antes? E antes? E antes de antes de antes? E antes de deus?

LUCAS
Você fica louco se ficar pensando.

PATRÍCIA
Primeiro era sexo animal, extremamente para procriação, aí depois foi virando ritual, e depois amor. Depois ficou proibido, depois selecionado, depois descriminado, depois totalmente liberado, depois compartilhado via internet, curtido. Depois voltamos às origens, sexo animal em colchão de mola francês com camisinha de chocolate branco! A virada do século! O sexo é lindo! E vimos os últimos velhos de gravata e roupa social diariamente. Os últimos avôs de suspensórios. De avós super católicas, de crochê na cadeira de balanço. Fomos a nova geração! A nova geração liberdade que explodia de hormônios pelos buracos do nariz! E sexo! Muito sexo! Muito e muito sexo! E muita gente no mundo. Eu me lembro daquela panela que você deixou mais de duas semanas sem lavar e que criou um fungo. Ele foi se proliferando envolta da panela até que tivemos que fazer alguma coisa e a lavamos. Os bichinhos ali devem ter se divertido muito. O planeta tá fazendo isso. Limpando a cagada da nossa geração. (pausa) E os filhos dessa nossa geração, nossos filhos, de repente pularam uma etapa desse ciclo. Sem avisar. Pularam o ritual, que vinha depois do animal, e foram direto para o amor. Que coisa mais maluca! E pagaram em sofrimento o nosso luxo. No fim das contas o amor sempre se fodeu. Talvez nossa geração tenha tentado fugir desse problema. E deu no que deu.

LUCAS
Você já assistiu “Histórias de Amor Duram Apenas Noventa Minutos”?

PATRÍCIA
É brasileiro, não é?

LUCAS
Sim. Com o Caio Blat.

PATRÍCIA
Acho que me lembro. Ele dá o cú pra uma menina, não é?

LUCAS
É estranho ver uma senhora da sua idade falando cú.

PATRÍCIA
Mas não é? Com um pinto de mentira, não é?

LUCAS
É. Mas é estranho. Não fale mais cú. E nem pinto, por favor.

PATRÍCIA
Nós não temos muito tempo, Lucas! Vamos falar qualquer coisa! (grita) Cú! Cú! Cúúú! (ri)

LUCAS
Eu amo você, Paty.

PATRÍCIA
Eu também te amo muito, Lu.

(eles se beijam)

LUCAS
Então, lembra desse filme?

PATRÍCIA
Lembro, o que tem?

LUCAS
Quantos minutos ainda temos aqui? (olha pro relógio)

PATRÍCIA
O que tem?

LUCAS
Temos mais três minutos.

PATRÍCIA
Três minutos? Três minutos? Meu deus! Meu deus! Meu santo deus! Me abraça, Lu!



LUCAS
Calma. Temos três minutos. Não vamos passar dos noventa minutos para o amor acabar de novo. No máximo, essa peça dure uma meia hora, quarenta minutos.

PATRÍCIA
E daí, Lucas? O que isso quer...?

LUCAS
(sedutor) Chiu. Não fala nada. (ele a seduz beijando seu pescoço) Eu tava pensando aqui...

PATRÍCIA
(seduzida) Em que...?

LUCAS
Nós dois... assim...

PATRÍCIA
Você tem certeza? Nós dois? Velhinhos assim.

LUCAS
O que tem?

PATRÍCIA
Tá bom. Mas tem que ser de chocolate branco, tá?

LUCAS
(ri) Tá. Vamos invadir uma farmácia. (avista uma farmácia) Ali! A fachada já está destruída.

(eles vão sair quase apaixonados; os dois celulares tocam; eles se olham por alguns segundos de tensão e atendem convencidos; a música sobe cobrindo a conversa; conversam sobre amor e se despedem de seus respectivos ex-amores; finalmente, os dois desligam mutuamente; silêncio; eles se aproximam vagarosamente um tanto romântico do tipo final feliz; os celulares tocam mais uma vez; eles se olham envergonhados e atendem depois de se desculparem com o olhar; a música sobe novamente)

(black-out; ouve-se uma explosão final)

(quando a luz acende, Lucas e Patrícia estão caídos mortos de mãos dadas; Irene entra machucada)

IRENE
(para a plateia) Quando minha avó me falou como seria o fim do mundo, ela falou que anjos viriam buscar os que amam. Daí depois ela riu, e falou que era brincadeira. “Deus não existe”, ela disse. Daí ela contou que quando era jovem, lá no começo do milênio, o mundo era feito de amor. Mas um amor diferente. Todo mundo amava todo mundo. Conhecia numa festa e amava. Conhecia na internet e amava. Nem sabia o nome da pessoa e amava. (pausa) Eu nunca conheci meu avô. A maioria dos meus amigos nasceu no susto, ou porque a camisinha estourou. (pausa) E ela contava como a avó dela falava e falava sobre deus. E o amor de deus, e o amor para o próximo, e o amor ao casamento cristão. E também como nunca falava sobre sexo, e como, na prática, na realidade, amava limitado. E contava como a avó de sua avó era uma mulher rude, casada por força, com sexo através de um buraco no lençol. (pausa) Depois da grande repressão, a liberdade exagerada foi um bom caminho pra podermos conhecer o amor de verdade. E antes de acertar, realmente, tiveram que cagar. Se tivessem descoberto esse segredo alguns anos antes, talvez o planeta não tivesse que nos expelir desse jeito. Fomos a geração seguinte da libertária. A mais importante, mas a última. (ela vai até a cadeira de balanço; senta-se e se acomoda; tira uma foto do bolso; sorri e a beija) Como será que seriam os jovens que eu, se tivesse tempo, deveria educar?

(os latões ao lado da cadeira pegam fogo; Irene aceita sua morte; uma música grandiosa finaliza a destruição do planeta)

IRENE
(classicamente romântica) Até o fim, meu amor! Até o fim!

(grande explosão; black-out; silêncio; longo silêncio)

(a luz acende; Irene está viva; ela olha para os lados, confusa; não se ouve mais explosões; ela se levanta e anda devagar receosa; por um bom tempo ela reflete sobre o acontecido, ou melhor, o não acontecido; ela se comunica com o olhar para a plateia; o fim do mundo não aconteceu; ela senta-se após refletir sobre solidão, sobre toda a vida)

IRENE
(confusíssima) Não... foi. Não acabou. (pausa; olha para os dois mortos e para o horizonte de cidades destruídas; lembra-se da procriação da vida; homem e mulher) Homem foi sempre faltante. (longa pausa) Talvez crochê seja um bom passatempo. (tira linhas e agulhas de algum lugar e balança a cadeira)

(a luz desce enquanto Irene cantarola “Glória, glória, aleluia”, sumindo ao som de um único passarinho ao longe; black-out)


FIM




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