A SAGA SOLO

A SAGA SOLO


PERSONAGENS
Leda
Diretor

Cenário: Um quadrado feito de linhas demarca onde é a encenação; para a personagem Leda, existem quatro paredes e ela está presa dentro dessa caixa.

PRÓLOGO

(Leda, bastante caricata, com maquiagem e figurino exagerados, se levanta teatralmente)

LEDA
(canta canastrona; música caipira/forró/sertanejo/raiz)
Se você pensa que é bonito ser feio
Vai tomar lá no meio desse nosso mundão
Se você pensa que a vida é bonita
Já comeu uma cabrita?
Partiu seu coração

Não interessa que a vida é ligeira
Seja como a peneira
Faça a escolha do ‘bão’
E nunca aperte a bunda da cozinheira
De ‘um chega ou num chega’
Dê migalha de pão

E mais amor

(a música vira drama; fala cantada)

Como é que eu posso vomitar batata
Se a vida de rata só me arruma arroz e feijão
Eu quero pizza, strogonoff, rocambole, marmitex, queijo de búfala, couve, bacon e hamburgão
Eu quero coca, loló, piroca e maconha
E uma Panicat
Nos meus momentos lésbicos
Eu quero mais força de vontade e sem vergonha
Ser xingada de biscate e não me importar com os meus netos

Se a minha mãe era uma puta você nada tem a ver com a vagina dela.

(música de esperança; uma princesa, um sarro)

Eu quero um espaço só pra mim
Eu quero poder dizer sim ao meu coração
Quero ter um espaço só pra mim
Um espaço em comunhão

Aqui e agora
Solar
Será agora
Um musical de uma pessoa só
Não tem duetos
Não vai ter clímax
Eu só tô aqui pra bater uma siririca
E foda-se o seu nó

(faz a última nota num falsete contínuo)


CENA 1: GREGOS E TROIANOS

(com uma manivela, Leda faz descer uma plaquinha com o nome da cena)

LEDA
Eu odeio teatro. Teatro é brega. Teatro não tem 3D. (pausa) Meu notebook tem 3D. Eu, por um acaso, pareço ser uma dessas idiotas que sai de casa pra ver um bando de artista, tudo cheio da ‘egocentricidade’, ficar fazendo micagem na minha cara? Vou pagar pra ver teatro só pra ser considerada culta? Meu cu, culta é meu cu. Esse povinho das artes não tá nem aí pra nós, ralés, meros mortais, queridos. Eles não querem nem saber. Parecem politizados, até parecem bem intencionados às vezes, mas no fundo é tudo um bando de carentes camuflados de egocêntricos, aguardando os aplausos e o reconhecimento, e o dinheiro da gozada no fim do mês. Eles querem entrar aqui nessa porra e fazer o que bem quiserem, e ‘calem essa boca’! Aí se você chega pra um cara e fala assim: “Cara, não gostei do seu projeto. Acho ele um pouco preconceituoso. Não tô afim de comprar o seu produto.” Aí o artista revolucionário se revolta! “Como assim? Onde estão as leis de incentivo para o artista? Onde está a minha liberdade de expressão? Artista não vive de ar!” (pausa) Meus queridos, o cara quer subir no palco, bater uma punheta, gozar desse púlpito que as pessoas colocam os artistas, fazer exatamente o que gosta de fazer, e essa tal coisa pode não ajudar em nada no nosso desenvolvimento social, na nossa evolução como seres pensantes e artísticos e filosóficos, pode ser uma merda o que aquele artista está fazendo ali, não pode? Artista também caga, galera. A gente nunca pode tá se esquecendo disso, entendeu? E o artista que está cagado, e não sabe que está cagado, vai relutar até a morte pelo direito de falar asneiras. Aí seria censura você impedir que um cara incite violência em cena? Expor a violência é diferente de incitar a violência, vale lembrar disso também.

(o Diretor entra, pega uma cadeira e coloca pra fora do quadrado, em frente à Leda; senta-se)

LEDA
(quebra) E aí?

DIRETOR
E aí?

LEDA
Eu acho que tá meio palestra.

DIRETOR
Eu também acho isso. Meio didático.

LEDA
É que eu fico nervosa, você sabe disso. Gente, todo dia aqui eu fico muito nervosa. Eu tô disfarçando, mas eu fico muito nervosa sempre.

DIRETOR
Dizem que quando perde o nervosismo tá na hora de aposentar.

LEDA
Então tô bem. Enfim.

DIRETOR
Mas e aí?

LEDA
Então. Não sei. Gosto, mas não gosto.

DIRETOR
Concorda?

LEDA
Em partes. Por exemplo: o que a gente tá fazendo aqui e agora e por que a gente merece ter comida na mesa por esse trabalho? Entende? Nisso eu concordo.

DIRETOR
Entendo. Mas a vida é uma grande brincadeira mesmo, né? Eu adoro esse jogo.

LEDA
Que jogo?

DIRETOR
Esse jogo que a gente tá fazendo aqui, agora. Essa porra.

LEDA
Sim, mas ainda assim eu acho que tem algumas coisas que... sei lá, não condizem. Porque a gente sabe da importância disso daqui. A gente não sabe? Da importância da arte na vida das pessoas? Não é? A gente sabe. É difícil de julgar.

(silêncio)

DIRETOR
Lógico que sim.

LEDA
O grande problema, a grande questão, é que tá foda. A grande massa não é atingida nunca pelo nosso trabalho. 

DIRETOR
Exatamente.

LEDA
Novelas, de novo.

DIRETOR
É difícil de você competir com um helicóptero passando raspando a sua cabeça dentro de um cinema.

LEDA
Pode crer.

DIRETOR
Que produto é esse? O que a gente tá vendendo de tão importante pra essas pessoas quererem pagar,...

LEDA
Eu achei que fosse ser um solo.

DIRETOR
...pro estado talvez subsidiar esse projeto? Qual a importância disso? O que ajuda na maquinaria? Por que você quer ser paga pra bater uma siririca em cena, por exemplo?

LEDA
Por que eu sou atriz. Eu preciso me sustentar.

DIRETOR
Mas aí você quer ser bem paga por qualquer merda que você julga ser arte?

LEDA
Mas quem disse que eu só faço merda? Arte é difícil de julgar!

DIRETOR
Tô supondo. Supondo que você seja uma pessoa com um pouco de ignorância social, que é artista pela plástica e não pela luta política, que é artista seja por motivo que for, que tem DRT, e que de repente decide montar uma peça, um filme com um caralho de traços e piadas homofóbicas, por exemplo. Na peça, desse grupo de teatro em construção e no seu direito a liberdade de expressão, as piadas não são usadas expondo a homofobia, e sim reafirmando que existem homofóbicos e ‘podemos ser homofóbicos quando a gente bem entender’. Essa peça devia passar por alguma censura, sim ou não? Levando em consideração que uma boa parcela da população ainda pensa desse jeito; e se é democracia, então será que eles tem esse direito?

(silêncio)

LEDA
Eu entendo o que você tá querendo dizer. Mas por exemplo, a minha vó é super religiosa e ela ficou muito chateada com uma peça que eu fiz que tinha Jesus pelado de ponta cabeça com uma banana enfiada na boca. A gente vai censurar a peça porque ela se ofendeu? Acho que não.

(silêncio)

DIRETOR
Foda.

LEDA
Foda.

(silêncio)

DIRETOR
Então o cara tá no direito dele de ser homofóbico, é isso que a gente conclui? Não acho que ofensa homofóbica dá pra se comparar com a tal perseguição que os cristãos dizem sofrer.

LEDA
É, eu também acho que não, ainda mais porque eu não acredito em Jesus, né. E sou lésbica. Se a gente tem que ser democrático, tem que ser democrático. É aí que tá a bosta: não dá pra agradar gregos e troianos.

DIRETOR
Mas você acha que na fala a personagem concorda ou discorda daquilo? Digo: você falaria aquilo como ironia ou concordando, afirmando que aquilo é assim? É isso que a gente tem que ver.

LEDA
Não sei. O que você acha?

DIRETOR
Acho que a gente pode pensar. É um assunto complexo. Você trouxe a música que eu te pedi?

LEDA
Eu não acho que é legal ter tanta música assim, hein. Aquela música, sei lá.

DIRETOR
O ator não tem que achar muito nesses casos.

LEDA
Eu achei que fosse ser um monólogo. É uma saga solo. Já passou essa época de criação de uma pessoa só.

DIRETOR
Achei que solo fosse de terra, de chão. Solo. E monólogos precisam de direção também. Não era dramaturgia que você queria?

LEDA
Eu trouxe a música. Não gosto muito dela, mas se você insiste.

DIRETOR
Canta pra eu ver.

LEDA
(canta desgostosa)
Um passo no espaço
Um espaço em um passo
Com um passo eu passo
Cada passo um compasso
Um espaço no espaço
Um espaço em um passo
Eu passo no espaço
Espaço o espaço com um passo em descompasso

DIRETOR
Eu acho que isso resume tudo, não sei porque você não gosta. A peça podia ser só isso, pra mim.

LEDA
Você é muito contemporâneo. Acho ela muito repetitiva.

DIRETOR
Eu sou prático. É diferente.

LEDA
Muito repetitiva. Eu gosto mais das coisas que acontecem sem querer. Da magia, entende? Das coisas que a gente não explica e não prevê.

(algum objeto cai sozinho em cena)

LEDA
Tá ligado? Ó, eu tô arrepiada. Esse é o barato do teatro. Que difere da televisão e do cinema. Não há segurança!

(silêncio)

DIRETOR
A música continua, ok?

LEDA
Ok, senhor.

DIRETOR
Vamo passar ela mais uma vez.

LEDA
Tá.

(o diretor sai de cena)

LEDA
(canta desgostosa)
Um passo no espaço
Um espaço em um passo
Com um passo eu passo
Cada passo um compasso
Um espaço no espaço...

(a luz e a música vão caindo em resistência; black-out)


CENA 2: A VAGINA DA SUA MÃE

(mais uma vez Leda desce a plaquinha com o nome da cena)

LEDA
Aí eu era menina, e eu chupei a minha primeira rola só com dezoito anos. Eu perdi a virgindade com dezesseis, mas não o cu. O cu foi só com vinte e três, vinte e quatro anos. Mas dos dezoito até os meus vinte e cinco, eu dei bastante, viu. Nossa. Pode se dizer sim: ‘puxa como essa menina era dada’. Eu era super dada mesmo. Adorava rola e aí? Fiz o que bem fiz e fiz de tudo de bom e do melhor. Faria mil vezes mais se tivesse vontade. Não que a vontade tenha acabado, mas é que depois de um tempo você começa a ficar meio seletiva. Escolher o pinto, sabe? Depois de um tempo a putaria começa antes de estar completamente pelada, na cama, no ato, começa antes. E aí... por que eu tô falando isso? Bom, porque sexo é uma coisa deliciosa de se expor, não é mesmo, meus lindos? É uma delícia ver os artistas falarem ‘esses caralhos, essas bucetas’ com tanto gosto. Aí aperta a buceta, mostra a buceta. Fala que vai comer assim, assado, ‘enfia a banana, mete o pau em cima’. Tem de tudo! No teatro pode e o povo curte. Tem gente pelada o povo vai. Ô, fissura em ver o pinto e a vagina alheia! Se eu sou puta, isso não te convém a palpitar.

(Leda parece ter se confundido na ação com a fala; ela para a encenação)

LEDA
Não precisa tirar agora, né?

DIRETOR
Lógico que precisa, na hora você vai ter que tirar, né?

LEDA
Sim, na hora sim. Mas agora a gente tá ensaiando.

DIRETOR
Linda, não dá pra gente brincar de fazer teatro enquanto você tá com seus pudores amadores.

LEDA
Não é pudor, é que...

DIRETOR
Ator não se justifica jamais!

LEDA
Eu tenho registro pelo Sated!

(silêncio)

LEDA
Tá bom, eu tiro. Porra.

(Leda fica completamente nua)

LEDA
Gostaram?

DIRETOR
Gozaram?

LEDA
Que bosta. Tô achando isso bastante desnecessário.

DIRETOR
Sinta o ventinho. Feche os olhos. Eu sou gay, querida, relaxe. Você tem que tentar parecer que tá super afim de dar, entendeu? Tipo atriz pornô, entende? Aí sim aquele texto vai surtir efeito. Gema pra mim.

LEDA
Ah-ah.

DIRETOR
Não! Geme de verdade, garota! Nessa hora você tem que fazer aquele espectador que tá ali apertar o cu e ter uma ejaculação espontânea, atriz. Gema! Gema! Mais forte! Mais tesão! (ela começa a gritar) Você tem que fazer essa plateia recomendar essa peça pra outras pessoas, se não amanhã a gente não vai ter dinheiro pra comprar cigarro. (ela esperneia) Agora faz isso ficar sexy, faz o tipo Panicat.

LEDA
Eu não tenho o perfil.

DIRETOR
Agora nessa hora você abre a perna e enfia a cara desse cara na sua buceta.

LEDA
O que?

DIRETOR
Pega a cara dele e esfrega na sua buceta. A gente não tem nada de melhor pra fazer!

LEDA
Mas agora?

DIRETOR
Agora! Vai, caralho!

LEDA
Espera! Calma! Eu tenho que perguntar pra ele se ele quer.

DIRETOR
Isso aqui é teatro, querida! Faz teatro! Faz! Só faz! Magia, querida!

LEDA
Mas e se ele não quer? Ele foi avisado disso? É uma buceta na cara, poxa!

DIRETOR
Ele tem a total liberdade de se retirar, se ele se sentir incomodado.

LEDA
Mas aí ele pode ser taxado de insensível, que não aguenta o tranco. E se for hétero – só porque não quis uma buceta gratuita esfregada na cara – ainda ser taxado de que não gosta de mulher. Não é assim que se faz as coisas.

DIRETOR
Não existe limite pro fazer teatral. Aqui é o vale tudo.

LEDA
Eu sei que não tem limites, mas eu não consigo invadir, não consigo ser evasiva.

DIRETOR
Não existe um artista que não tenha que ser evasivo, garota. Ser evasivo é o mínimo. Você tem que querer mexer com o espectador.

LEDA
Mas eu não entendo o que a minha buceta na cara dele quer dizer. Qual o contexto? Tem alguma crítica? O que é o contexto?

(silêncio)

DIRETOR
Às vezes a escolha de uma cor para um quadro não vem de uma super criatividade extra sobrenatural, de um super pensamento em concordância da lógica das cores e tudo o mais. Às vezes acabou o marrom e eu pintei de verde.

LEDA
Desculpe, não vejo sentido em esfregar a buceta na cara dele. Eu ainda tenho tinta marrom.

(silêncio)

DIRETOR
Tem?

(silêncio)

DIRETOR
Vai, pode vestir a roupa.

LEDA
Obrigada.

(ela se veste)

DIRETOR
Se você preferir, a gente pode montar um infantil. “O grilo e o vagalume”. Fala da amizade de um inseto atleta com um inseto cientista e não tem sexo entre eles.

LEDA
Eu só quero estar em cena. Eu queria fazer alguma coisa legal.

DIRETOR
E por que?

LEDA
Porque eu sou atriz. É o que eu gosto de fazer. É a única coisa que eu sei fazer e eu preciso jantar hoje. Você não precisa jantar hoje? Você não gosta de pizza? Então.

DIRETOR
Mesmo sem saber o que tem pra falar?

LEDA
Oi?

DIRETOR
Mesmo sem saber o que falar?  Você quer estar em cena mesmo não tendo nada de importante pra fazer, pra expor? Você tem que saber escolher o sabor antes, entendeu?

LEDA
E ficar pelada e esfregar a minha buceta na cara dele era importante em quê?

DIRETOR
Acredite, aquele cara jamais iria se esquecer esse espetáculo. Do gosto, do sabor desse espetáculo. Ele gostando ou não de bucetas. Acho justo a sua busca pela sua janta diária, mas convenhamos aqui, nós artistas queremos ganhar nosso ganha pão gozando. Enquanto a grande parcela da população vive na escravidão do tempo e do dinheiro e da dura sobrevivência existencial.

LEDA
Não posso me sentir culpada por isso. O que você tá querendo?

DIRETOR
Porque você nasceu atriz, suponho.

LEDA
Não nasci atriz! Lógico que eu me tornei. O que você tá querendo com tudo isso? Qual o sentido dessa porra? Você quer que eu seja mais realista, é isso? Eu não tô entendendo. Por que você tá sendo grosso comigo? Vamo passar de novo, vai. Relaxa, cara.

DIRETOR
Eu só queria que você esfregasse a sua pura vagina na cara dele. É pedir demais? Vamo começar a fazer teatro de verdade?

(silêncio; um foco lentamente destaca Leda do resto)

LEDA
Olha, eu trouxe uma coisa minha. Achei que você pudesse querer ver uma coisa minha, pra ajudar na criação desse negócio. Não é exatamente sobre o que eu gostaria de falar – eu ainda não consegui captar a mensagem que eu preciso gritar pro mundo – , mas eu acho que tem um pouco a ver. Já falaram, já fizeram de tudo por aí. Eu morro de medo de soar poética – sabe aquele falso poético? – , morro de medo. Por isso eu acho que essas brincadeiras são necessárias nos dias de hoje, esse jogo entre eu e você, entre nós e a plateia, entre o ritual e a dramaturgia. Ela definitivamente não deve ter ponto final nunca. (pausa) Sobre o teatro pelo entretenimento? O entretenimento pode ser SUPER político. Talvez um block-buster, com uma boa mensagem camuflada em super-heróis, atinja a grande massa com dignidade, e aí? Qual a função de se contar uma história? Por que o ser humano ama ouvir e assistir e ler e compartilhar essas histórias inventadas? Por que diabos vocês gostam de vir ouvir alguém dar um texto decorado, por uma receita pré ensaiada? Por que gostam de contar mentiras e lembrar do passado? (grita) Por que vocês gostam de ouvir gente cantando? Gente dançando? Gente trepando? Por que gostam de assistir pornografia?

DIRETOR
Cadê a coisa sua que você trouxe pra ajudar na criação desse negócio?

LEDA
“Andar brincando de filosofia
Muita maconha é nisso que dá
Quando o trabalho é contestar o trabalho
O desespero vai logo chegar

Escolha um tema, drama ou comédia
Sobre amor ou sobre o natal
Vender na escola, não dá pra ter mulher pelada
Nem palavrão, talvez um musical

Teatro é isso
Que a gente veio falar
Sem compromisso
O jogo agora é brincar
Teatro é isso
Você paga pra entrar
Tão submisso
É o que te faz ficar

Eu quero ser lembrada com importância
Um espaço em passo que eu possa ajudar
É um negócio que eu tenho desde a infância
Que um legado eu quero deixar”

DIRETOR
“Pra que diabos contratou-me, moça?
Só um dueto para alavancar
Se está pensando em performance, louca
Creio na minha, posso te ajudar

Vamos trepar em cena
Só eu e você
Uma grande cena
Todos pagam pra ver.

OS DOIS
Vamos trepar em cena
Só eu e você
Uma grande cena
Todos pagam pra ver.”

(os dois se atracam; o Diretor joga Leda de quatro e levanta o seu vestido)

LEDA
Tem que ter sexo mesmo? Tem que sempre ter sexo? Assim fica fácil.

DIRETOR
Todo mundo faz, todo mundo gosta, todo mundo quer, todo mundo inveja, todo mundo teme, todo mundo ama.

LEDA
Eu disse que eu queria um monólogo, cara.

DIRETOR
Tudo tem mão do diretor. Egoísta!

LEDA
E pau de diretor?

DIRETOR
Em alguns casos.

LEDA
Alguns?

DIRETOR
Alguns. Famosos, inclusive. Abaixa um pouco.

LEDA
Machista.

DIRETOR
Egoísta.

LEDA
Machista!

DIRETOR
Egoísta!

LEDA
Você tá de pau mole. Você tá de pau mole! O que é isso?

DIRETOR
Calma, caralho. É foda ficar de pau duro em cena, porra. Vamo com calma!

LEDA
Eu não acredito nisso! Vejam só! Cadê o artista ilimitado agora? Não tem que ter tesão? Hã, não é isso? Que puta hipócrita que você é, cara. Seu pau te entregou, queridão. Sua alma artística não corre na veia, na porra do seu sangue, não bombeia junto no seu coração. Se não seu pau tinha subido! Você não acredita nisso que você fala, você não acredita. Isso é cena, não é ritual. Cadê o pau duro, meu querido? Cadê a porra do pau duro?

DIRETOR
Eu sou gay, minha querida. Vou ter que me concentrar um pouco pra conseguir.

LEDA
E eu também sou lésbica, tá bom? Só pra você saber.

DIRETOR
Ainda bem.

LEDA
Ainda bem.

(pausa)

LEDA
Mas não interessa! O teatro da verdade que você quer tanto fazer não deve existir esse limite de gênero. Eu sou uma pessoa que você precisa comer nessa cena. E agora? Pode comer, porra!

DIRETOR
Não existe essa incorporação de personagem em mágica, querida. Isso não existe. Seu personagem vai ser sempre você, atriz, no fundo. Todo mundo sabe como é que funciona essa porcaria aqui. Que isso está pré programado, que tem o cara da luz ali, que você tá fazendo essa cara porque a gente combinou que essa era a reação que você teria com exatamente isso que eu estou falando nesse momento.

LEDA
Idiota.

DIRETOR
Até essa fala! E essa minha fala sobre a sua fala, e depois sobre a minha de novo. As pessoas sabem que é mentira, a gente não precisa tentar fingir cem por cento uma coisa que não é verdade.

LEDA
Gay e machista! Tem nojo de buceta pra mim é machista sim! Se tem repulsa é fobia.

DIRETOR
Eu aprendi nessa vida o que me deram pra aprender. A verdade é essa.

LEDA
Uh, tadinho do ‘home’. A verdade é essa? Que verdade é essa, senhor barbudo gay vítima do patriarcado?

DIRETOR
Pra mim, você escolhe um assunto no aleatório, coloca alguém pra observar e direcionar e dança.

(instantaneamente Leda passa a dançar sem querer)

DIRETOR
Dança, menina. Essa é a verdade. Mostra o corpo. Seres humanos gostam de ver outros corpos se movendo, soltando sons em tons gostosos para os ouvidos, gostam de ouvir poesia barata, gostam de contar histórias com um tom épico de saga, tocar o corpo do outro se for possível. Sou eu quem mando. Um corpo pelado às vezes fala mais do que uma cabeça canastrona. É tipo vender o corpo isso? Teatro é o mesmo que carteirinha de puta? Que seja regularizado essa porra de um direito de vender o que te pertence; que seja regularizado e logo.

LEDA
(como um auto ajuda)
A vagina da sua mãe, não me diz respeito!
A vagina da sua mãe, não me diz respeito!
A vagina da sua mãe, não me diz respeito!
A vagina da sua mãe, respeito.
Se ela é uma puta, eu não me ofendo com a palavra puta
Se ela é uma puta, eu não me ofendo com a palavra puta
Se ela é uma puta, eu não ofendo com a palavra puta.
Se ela é uma puta, eu não ofendo com a palavra puta.

OS DOIS
A vagina da sua mãe, não me diz respeito!
A vagina da sua mãe, não me diz respeito!
A vagina da sua mãe, não me diz respeito!
A vagina da sua mãe, respeito.
Se você não transa, não destranse os transantes.
Se você não transa, não destranse os transantes.
Se você não transa, não destranse os transantes.
Se você não transa, não destranse os transantes.

(cantam)

Somos todas prostitutas
É o produto bruto
É luto, é luta, é puto, é puta
Meu corpo aqui no foco
Não importa o que eu falo
Não importa a letra dessa música
Não importa se estou sendo realista nessa minha reação quanto à metalinguagem
Não importa se alguém está rindo dessa música que está saindo fora do compasso só pra parecer que a dramaturgia está sendo escrita ao vivo enquanto nós atores ainda falamos.
Não importa nem se A Saga Solo vai chegar a ser encenada.

Aqui estamos.

(os dois se abraçam como num final feliz; finalizam a música grandiosamente)

OS DOIS
Precisa ter um assunto solo?

(black-out)



CENA 3: INSETOS

(a plaquinha desce com o nome da cena; um foco destaca Leda vestida de Vagalume, com um figurino de peça infantil)

LEDA
A peça tem uma mensagem boa. Não é a minha bunda que pisca, é a minha barriga. Ó. (a barriga dela pisca) Eu gosto da mensagem, fala do valor da amizade e das diferenças das pessoas. E criança é foda. Se criança não tá gostando ela é sincera, ela dispersa, ela faz bagunça. Adulto não. Isso daqui pode tá uma bosta, mas o tal do respeito vai fazer vocês todos aplaudirem no final. Acho justo até. Deu trabalho pra fazer, todo mundo merece ao menos os aplausos do final. Até a peça mais bosta, dá trabalho pra fazer, tem cabeças envolvidas. Cabeças com sentimentos, com histórias particulares. Artista também é gente, também caga. A gente tem essa impressão de que porque sou eu quem estou com a palavra nesse foco, que eu sou mais autoridade aqui. Pelo contrário! Qualquer coisa que vocês fizerem de diferente vai me afetar; quando você tosse, quando você se mexe, quando você me encara enquanto eu te encaro. (pausa) É uma brisa. É uma grande de uma brisa. (pausa; frisa) Não existe autoridade. Parem de me encarar em afronta. Isso daqui é pra ser um contato apenas, mais uma forma de contato. É pro que serve, a vida. Se você quebra com isso, é meu dia de espanto da rotina, entende? E eu acho isso maravilhoso! Acontece pouco, dá medo, mas é maravilhoso.

DIRETOR
(invade) Eu acho que quando a gente tenta ser didático, quando a gente tenta soar bonito, romântico, a coisa não acontece, tá entendendo? A coisa realmente, de fato, acontece, quando a gente não quer que aconteça. Não adianta forçar. Quando a gente apela pro realismo supra realista que a coisa acontece, consegue me entender? Aí é que a piada tem graça, que o drama envolve. Quando a gente força a barra na narrativa, quando a gente tentar soar poéticos, a coisa fica superficial. Então quanto menos, melhor, entende? Quanto mais limpo, melhor, entende? Quanto mais movimentos normais, quanto mais olhares pensados, melhor. Aí eles vão acreditar. Aí Jesus talvez volte!

LEDA
Vamo abortar essa porra, então. Não tô conseguindo te agradar, pelo visto. Isso tá ficando muito chato, cara. Deixa eu fazer a cena.

DIRETOR
Eu sou a visão de fora, menina, eu sou uma base pra você. Escute o que eu tô falando.

LEDA
Nada que eu faço tá direito, pô. Eu não comecei ontem.

DIRETOR
Pô, então é só você rasgar o contrato. Tudo tranquilo.

LEDA
Você vai querer a multa, claro.

DIRETOR
Mas é óbvio que sim. Eu também tô aqui perdendo o meu tempo, sabia?

LEDA
Eu não acho que necessitamos dessa grosseria, entendeu? É isso. Eu tô pagando você pra você me ajudar a tentar fazer um bagulho com mais profissionalismo, entendeu? A gente tem que tá junto nessa, entendeu?

DIRETOR
Você tá me pagando pra eu ser seu amigo? Tudo bem. Pode ser também. Vamo lá. Depois não reclame de a peça ser um fiasco. Você precisa rever as suas prioridades da vida, menina.

LEDA
Cara, você não é toda essa bolacha que tá se fazendo. Eu sei bem que nós dois estamos na merda. Você tá me ajudando e eu tô te ajudando, é isso que é isso daqui.

DIRETOR
Na merda não, na crise dos trinta.

LEDA
Não interessa. Você não é um fodão também. Calma no samba aí.

DIRETOR
Não sei em que momento fiz parecer isso...

LEDA
Eu quero que a gente crie esse bagulho em conjunto. Quero ter mais mão minha aqui também. Já não basta a dramaturgia e a linearidade. Não quero aquela música, entendeu? Não gosto. Por exemplo. Não gosto.

DIRETOR
Ok, atriz. O dinheiro quem manda.

LEDA
É um investimento sério, esse que eu tô fazendo. Eu não quero ficar perdendo tempo com essas coisas, entende? Quero montar e pronto. Aí a gente vende, apresenta e pronto. Eu já passei pela fase de pesquisa, pela fase estudantil. Agora eu preciso trabalhar, eu quero trabalhar, e eu me cansei de grupinho dos outros, de exercício de roda.

(silêncio; o Diretor ri de nervoso)

DIRETOR
Eu não tô acreditando nisso. Você já tem DRT, né?

LEDA
Claro que tenho.

DIRETOR
Uau. (ri)

LEDA
O que tem? Você tá rindo de quê?

DIRETOR
Eu não consigo fazer teatro assim, garota. É meio complicado pra mim. Ainda bem que você tá pagando bem.

LEDA
Eu só preciso de uma direção, entendeu? Alguém que me dê uma direção. Você pode fazer isso? Você é profissional o bastante pra entender isso?

DIRETOR
(se irrita) Mas você nem sabe sobre o que você quer falar, garota! Direção pra onde? Você não consegue dar a porra de um texto sem ficar parecendo decoreba! Fica fazendo drama com um texto ordinário! Profissional uma porra! Você quer fazer a porra da peça pra que? Pra quem? Pra quem que você quer fazer a porra da peça?

(silêncio)

LEDA
Pra quê, ou pra quem, eu não sei. Mas eu pago ensaio.

(silêncio)

DIRETOR
Vamo ensaiar. Canta aquela música de novo pra mim.

LEDA
Ah, não!

DIRETOR
Quero fazer um experimento logo depois dela. Quero ao menos ter liberdade artística porque sou eu quem vou assinar essa porra. Se der merda, vai dar merda pra mim também.

LEDA
A gente tá fazendo muito drama. Essa roupa de vagalume não ficou muito boa.

DIRETOR
Nessa hora, você sai de cena um pouco pra se preparar psicologicamente.

(Leda obedece)

LEDA
O que é justo é justo. Dá licença. (sai)

(silêncio)

DIRETOR
Eu aprendi muito com o silêncio. É difícil de expressar silêncio num roteiro. Dramaturgia é coisa de textão. (pausa) Fiz teatrão de interior por uns quinze anos. Gosto do teatrão. No meio tempo experimentei as experiências do teatro cotidiano: tudo é cena, a vida é cena, tudo é performático e pode ser mais ainda, mais sublinhado, com a arte. O teatro do corpo, do experimento de sensações individuais. Do silêncio e da observação. A próxima cena é feita de rubricas ‘contemporâneas.

(black-out)







CENA 4: MOVIMENTOS INTERESTELARES

(a plaquinha desce grandiosamente com música)

(em um foco no fundo e no meio à fumaça, Leda se masturba; o Diretor está com um chapéu da Estátua da Liberdade e uma tocha na mão, fazendo a pose, à frente; tudo acontece com uma leve movimentação num compasso simétrico; o Diretor, vez ou outra, desmonta a Estátua e faz algum golpe de arte marcial, ao mesmo tempo que Leda geme mais forte)

(o Diretor sai de cena e volta com um balde cheio de ‘sangue; de dentro do balde ele retira um grande pênis/consolo de silicone; ele chupa o pênis; ao mesmo tempo, Leda arreganha as pernas e grita de prazer de uma siririca violenta)

(com a boca cheia de sangue, o Diretor se interessa rapidamente por Leda; ele se aproxima dela e a chupa com bastante gosto; Leda autoriza com muito tesão)

(depois de um tempo, o Diretor pega o balde de sangue e joga sobre o corpo de Leda; Leda passa a gemer cantante, afinada, quase romântica; sem encostar no Diretor, Leda o empurra, como se ela tivesse super poderes; Leda passa a brincar com esse super poder, e a fazer coisas – sem encostar – com o corpo do Diretor; ela o chacoalha, faz ele cair, dançar, dormir, chorar, etc)

(Leda pega o pênis de silicone e o amarra em sua cintura; mecanicamente, o Diretor abaixa as calças, e deixa-se penetrar com certa brutalidade animalesca; eles curtem e se olham sorrindo enquanto metem)

(de repente, algo faz com que Leda se assuste sozinha; ela parece ter se lembrado de alguma coisa ou horrivelmente arrependida; ela ouve alguma coisa em sua cabeça e isso a faz gritar de dor; o Diretor tenta se aproximar e ela o repele; Leda parece estar com uma dor de cabeça muito forte; a cenografia e os adereços começam a cair em cena; o Diretor tenta ajudar, mas é jogado pra trás)

(Leda se acalma momentaneamente; ela olha para o alto como se tivesse resolvido a grande questão, como se agora soubesse da resposta; ela aponta para o alto, mostrando para o Diretor o que havia acontecido)

(o Diretor tenta se aproximar presenteando Leda com uma maçã; ela se irrita e joga a maçã na cabeça dele; Leda se vira e mostra o cu pra ele, mostra bem o cu, abrindo a bunda; ela aponta o cu para uma parede e do seu cu se retroprojeta um vídeo:)

(no vídeo vê-se imagens de alienígenas de vários filmes; dos blockbusters aos mais realistas, dos bem feitos aos com efeitos ultrapassados)  

(o vídeo termina e Leda retorna mais calma e simpática; o Diretor, como uma criança, corre para os braços de Leda com medo; Leda assume uma maternidade; Leda ajoelha o Diretor e se ajoelha na sua frente; ela coloca a mão no peito dele e depois no seu, e depois aponta para o céu; explicando que nós somos um fruto extraterrestre, somente com o gesto; o Diretor renega a informação, ele sai e volta com um quadro de Jesus e aponta com convicção para o quadro, afirmando que a verdade é aquela; Leda não nega; ela confirma que Jesus é a verdade, faz um carinho em seu rosto, sai e volta com um quadro com a foto de um astronauta; Leda coloca a mão no quadro de Jesus e depois coloca a mão no quadro do astronauta, explicando que os dois são a mesma coisa; o Diretor, quando entende o que ela quer dizer, se irrita birrento e quebra o quadro do astronauta; Leda vira um monstro de ódio)

(as luzes dão um clima de terror; Leda grita monstruosamente por causa do seu quadro quebrado; sem encostar no Diretor, ainda com seus super poderes, Leda o sufoca propositalmente; ele cai de joelhos e clama por piedade, ela se diverte em brincar de causar dor nele; depois de algum tempo de uma tortura sobrenatural, Leda quebra o pescoço do Diretor – sem encostar nele; o Diretor cai morto)

(Leda, mais uma vez aponta o cu para o telão, e seu cu retroprojeta outro vídeo:)

(no vídeo, vê-se o planeta Terra girando lentamente)

(eles cantam)

OS DOIS
Uma saga tem que ser global
Tem que ter ao menos uma cena legal
Bom seria se fosse um musical

Com sexo, palavrão
E ator chupando cu
Sem nexo, sem final
E a plateia com cara de cu

Com texto, ou sem contexto
Sem assunto e um urubu
Um vagalume chupando um cu

E o diretor com cara de cu
E a plateia chupando um cu
E a atriz, o cu é dela
Todo mundo chupando um cu
Todo cu chupando um mundo
Mundo um todo cu chupando
Chupando cu um mundo todo
Um cu chupando todo mundo
Cu todo mundo chupando um

E a plateia com cara de cu
Cuidado, que eu chupo a sua face, meus queridos
A Terra gira e daí?

(black-out)


BIFE FINAL: FACE TEATRAL

(Leda aparece em um foco)

LEDA
Sabe o que eu queria falar? Vocês não sabem, mas eu queria falar uma coisa que... ah, não! Não, não vou falar. Deixe quieto. Eu queria falar, mas eu não vou falar. Não, não é que eu não quero, mas se eu falar o que eu queria falar, vai ficar parecendo que eu não tinha nada pra falar, entende? Por que insistir, entendeu? Eu queria falar o que eu queria falar, mas falar assim só por falar, me parece viagem. Pra que falar, entendeu? Por que? Por que eu tenho que falar, entende? Eu não tenho que falar, mesmo querendo, mesmo atiçando a curiosidade dos fãs. A gente pode falar sobre outras coisas, pode ser várias coisas, pode não precisar ter mensagem, sabe? É difícil, lógico que é difícil, mas impossível não é. O teatro não pode competir com cinema 3D, não pode e nem vai conseguir competir. Acho que aqui, nesse lugar, onde vocês estão sentindo o meu calor, onde vocês tão vendo eu suar de pertinho, onde o bobo aqui tá perdendo o tempo pra agradar os pagantes, nesse lugar, existe outro tipo de magia. Precisa ter outras coisas também, além de novela; precisa ter o jogo. Criança se não gosta não mente. Acho que passou do tempo de a gente fazer teatro de brincadeirinha. Eu não tenho uma luta pessoal, eu só quero estar aqui. Esse é o meu bife final.

(a música sobe e o espetáculo parece acabar grandioso)

(black-out)


EPÍLOGO

(as luzes de serviço se acendem; eles arrumam as coisas nos “bastidores”)

LEDA
E aí?

DIRETOR
Dramático. Bem dramático.

LEDA
Eu acho que a gente tem que conseguir dar esse tom de saga, sabe? Esse tom de aventura no teatro. Você não acha?

DIRETOR
(ri)

LEDA
Tá rindo de quê? Você não acha? Já que não tem um tema, a gente tem que brincar pelo menos, né.

DIRETOR
Vamo embora, vai. Eu tô com fome.

LEDA
Pizza!

DIRETOR
Meia quatro queijos e meia calabresa.

LEDA
Não, calabresa de novo não! Eu odeio cebola.

DIRETOR
Pede sem cebola.

LEDA
Não, de calabresa eu não quero.

DIRETOR
Então só quatro queijos.

LEDA
Tá bom, só quatro queijos é ótimo. Você pede?

DIRETOR
Eu tô sem grana.

LEDA
Pago ensaio, alimentação e transporte, meu queridinho. Relaxe.

DIRETOR
Você não existe, você é um personagem.

LEDA
Pode ser.

DIRETOR
Pode ser que fique legal.

LEDA
É, pode ser que sim, pode ser que não.

DIRETOR
Fome.

LEDA
Fome.

(eles saem)


FIM