A CAMA É O PALCO


PERSONAGENS
ATOR
MESTRE AZEVEDO CASTRO


CENÁRIO: Um trono ao centro; uma cama e um microfone nas extremidades.


CENA 1

(temos a silhueta do Mestre, sentado de costas em seu trono superior; o Ator apresenta uma palestra em um retroprojetor, informalmente, com bastante realismo)

ATOR
Boa noite. Bom, como todo mundo sabe a minha pesquisa é sobre a Cia Teatral Transe em Terra do renomado Mestre Azevedo Castro. Pra fazer essa minha apresentação eu conversei com dois artistas que passaram pelo Transe em Terra e com base nessa conversa eu tentei dissertar sobre como funciona a produção e as escolhas artísticas do grupo. Como todo mundo sabe também, o Transe em Terra participa ativamente das lutas sociais aqui do Brasil e teve um trabalho incrivelmente importante durante a ditadura. O Azevedo Castro foi exilado, foi torturado e, artisticamente trouxe um novo jeito do fazer teatral para o Brasil. O Azevedo Castro acredita pra caramba no teatro ritual, no teatro da verdade que não engana o espectador. O espectador tem profunda participação nos espetáculos e - se você for assistir alguma peça do grupo - você se sente realmente acolhido e amado por um teatro que engloba a beleza do misticismo e dos rituais reais. Aí eu perguntei pra um dos atores que eu fiz uma pequena entrevista - o nome dele é Carlos Malta, eu conversei com ele por Skype -, eu perguntei: "Como funciona o processo de criação durante os ensaios?" Aí ele respondeu que eles chegam, eles bebem um vinho, fumam, dançam pras divindades, algumas vezes rola algum tipo de suruba – ele que disse – , e depois eles levam os trabalhos dos rituais para o espetáculo. Por exemplo, o teatro moderno muitas vezes cria suas encenações com partituras corporais estimuladas por inúmeros formatos de sensações físicas, já o Transe em Terra leva a crença de um teatro ritualístico e dionisíaco para a própria cena. Não existe mentira nas encenações do grupo, tudo é verdade. Aí como eu sou um grande admirador do Azevedo Castro e um grande fã do Terra em Transe, eu não pude deixar de perguntar: "Como eu faria pra fazer parte do grupo? Como funciona o processo de seleção?". E ele respondeu que havia um ritual de iniciação onde você precisava ter um contato físico e sexual com todo o elenco, pois segundo o Azevedo Castro só conhecendo o sexo do outro que você consegue ter uma troca real de energia durante a encenação.

MESTRE
(grandioso) A cama é o palco!

(o realismo da introdução termina e o Ator interpreta sensualizando em cima da cama)

ATOR
Eu sou um puto. Eu gosto de sexo. Acho que minha real vontade de estar na Terra é para experimentar o sexo. Talvez eu seja um viciado. Eu comecei transando com meninas e depois passei a trepar com homens. Eu sou um tipo de artista bem clássico, segundo os preconceituosos. Viado, putão. Como e dou, sem neurose. E sabe qual é o meu grande sonho como artista contemporâneo? Eu quero muito conhecer uma suruba. Sério mesmo. Quem julga? Melhor ainda se for uma suruba pública e política! Eu não sou mais nenhum muleque punheteiro, mas vão duas por dia se eu não trepo. Eu acredito fielmente que foi pra isso que eu nasci. Pra essa verdade: a verdade do agora, do gastar o dinheiro todo que você tem no agora, no prazer momentâneo de uma fumaça, de um lanche cheio de gordura. E se morrer, morreu gozando.  Eu não acredito em deus mais, óbvio, mas eu acredito no ritual, na força de um ritual de verdade! Onde mais que eu posso encontrar isso sem precisar virar ator pornô? Isso tudo é muito louco, pode crer, eu só não faço filme pornô porque sou um bundão com medo do preconceito, porque os caras pagam bem, bem melhor que a exploração publicitária da nossa cara desses comerciais de televisão, mas... é que é foda. (ele sai cantarolando pelo palco, rodando maravilhado) Eu acabei de assistir um espetáculo do Transe em Terra, gente.  Por isso que eu fico todo sexuado, sabe? Eu acho que eu tô apaixonado. O Azevedo Castro tirou a minha camiseta, vocês acreditam? Aí ele começou a lamber o meu mamilo. Fazia parte da cena, dando o texto. Aí a menina veio e me deu um beijão. Olha, fazia tempo que eu não beijava uma garota, mas eu vou falar pra você, viu... Genial. Eu voltei pra casa agora em catarse. Eu consegui sentir aquilo. Eu consegui sentir o poder dionisíaco emanando neles, você consegue entender? Você sente verdade nos atores, você percebe que há uma união sexual entre eles, você entende? Dá uma impressão, assim, que eles estão num nível mais elevado na existência, sabe? O Azevedo Castro tem uma presença corporal – que mesmo não tendo um pinto muito grande, porque o outro menino lá tem o pinto maior – ele demonstra uma grandeza, uma imponência, que não tem a ver com masculinidade, que tem a ver com intelectualidade. Eu realmente recomendo o espetáculo dos caras, mas vá preparado pra quebrar com os tabus, entendeu? Eu tenho uma amiga que não gosta muito, acha tudo um tanto meio gratuito, eu até briguei com ela uma vez. Mas você sabe que eu sou de uma geração de artistas bastantes caretas, né, então... Porque assim: eu entendo quando algo soa gratuito, sabe, mas é que com o Azevedo Castro eu sinto uma verdade no ritual, na força da energia de seres elétricos focados em uma única fonte de conexão, que é o teatro e o rito. E isso me fascina, porque eu realmente acredito que eu seja um pouco sensitivo, e eles me passam uma verdade nos corpos deles. (pausa) Ou talvez seja questão de gosto, mesmo. É disso que eu gosto e eu amaria fazer parte disso na minha vida. Eu daria tudo! Não, não tudo. Ah, daria tudo sim!

MESTRE
A cama é o palco!

ATOR
Diz que rola uns testes normalmente em janeiro. Aí quando você entra no grupo você passa por um corredor com todos eles pelados e você tem que passar no meio deles com todo mundo passando a mão no seu corpo. Mas não é fácil de entrar porque o Azevedo Castro é bastante exigente. Tipo, obviamente que os protagonistas são amantes dele. Os principais, o Leonardo, o Simão e a Andréia. E não tem problema, né, se trepa com todo mundo qual o problema? Não é romance do tipo clássico, entende? Não é mamãe e papai, namorado e namorada. É algo maior. É algo voltado à espiritualidade. Eu tenho muita curiosidade de ter essa vivência, entende? De transformar tudo isso ainda em teatro, em luta política, é muito mais estarrecedor na sociedade do que uma bostinha de um ator contando seus causos pela jornada que é a vida.

MESTRE
A cama é o palco! Você estudou naquela bostinha de escolinha. Quem é você? (ecoa)

ATOR
Estava eu, deitado em minha cama, pensando na vida. Eu tinha acabado de me mudar pra São Paulo, eu morava na Ceilândia em Brasília, mas minha família é de Porto Alegre. Aí eu já tinha visto algumas peças deles inclusive essa que ainda tava em cartaz. E eu pensei: “acho que eu vou ver o Transe em Terra hoje”. Do nada, assim. Aí eu pensei melhor, eu quase não fui. Eu falei: “ah, não, que preguiça”. Eu quase não fui. Aí eu pensei de novo: “Vai sim. Vamo ver de novo”. E eu fui. Naquele dia eu saí até atrasado de casa e deu tempo. Cheguei em cima. Aí o espetáculo começou.

MESTRE
(se levanta grandiosamente mostrando um figurino extravagante) Respeitável público pagão do admirável mundo novo da poesia! E do sexo! E da embriaguez e dos prazeres mundanos que foram colocados à prova como único sistema de eloquência política e da energia elétrica de nossos corpos celestes em procrastinação social, e masturbação artística de um universo pscicodélico da arte! O teatro e a sua essência, que transforma a mentira em verdade, que não engana o espectador e que não faz essa diferença de endeusificação. O teatro da verdade! Que usa máscara para mostrar a sua verdadeira face! Que caga, que peida, que trepa, que tem pau, que chora...

(o Ator está aos prantos, emocionado; o Mestre enxuga suas lágrimas curioso)

MESTRE
Você é ator?

ATOR
Sou sim.

MESTRE
Volte aqui no dia de semana pra gente conversar.

ATOR
Tá bom.

MESTRE
(volta para a encenação; e tira a roupa por completo) O trabalho é a prostituição mais antiga do mundo! Somente o prazer salva a alma dos que vivem envolto à crises existenciais e à necessidade de gritar ao mundo: “Eu importo”! Gritem todos comigo: “Eu importo”! Vamo lá, todo mundo! “Eu importo”!

ATOR
Eu importo!

MESTRE
“Eu importo, eu importo”!

ATOR
EU IMPORTO!

(o Mestre tira a camiseta do Ator e começa a lamber os seus mamilos dando o texto)

MESTRE
Quem te serve? Quem me serve? Me serve pra quê? Tem que ter alguma coisa. As bactérias se roçam, se sarram. Eu e você e um mamilo ouriçado. O seu pau na minha mão. (ele apalpa o pau do Ator) A cama é um palco!

ATOR
(corta a cena) Isso tudo é muito excitante, se você não acha isso excitante eu não sei o que é excitante pra você. É um tipo de abuso artístico, político. Você entende? Você consegue entender? Em cena aqui eu não vejo problema nenhum, eu acho isso tudo muito ótimo. Eu sempre me amarrei nesse lance de um sexo em público. E vocês acreditam que uns anos antes, quando eu assisti uma peça deles pela primeira vez, e eu morava em Brasília ainda, eu disse assim pro meu amigo: “Imagina que legal se de repente você tá assistindo a peça e o Azevedo Castro fala assim: “vem participar com a gente, você tem o perfil do Transe em Terra, eu tenho um personagem super legal que é a sua cara”, imagina se ele fala isso. Eu acho que eu morria”. Eu juro que eu falei isso. E de repente, aconteceu. “Volte aqui no dia de semana”. E eu não morri, mas eu voltei pra casa extasiado depois da peça. Claro, né? O meu grande ídolo, minha inspiração teatral me chamou pra passar lá durante a semana do jeitinho que eu tinha imaginado pra gente conversar. É a lei da atração, gente. Eu tenho certeza absoluta que é. (ri) Eu fiquei com o mamilo ouriçado até umas duas da manhã nesse dia. Aí eu pensei assim. Eu não vou já na segunda-feira pra não parecer um atorzinho desesperado, eu já até que tenho que uma carreira, entende? Tenho que mostrar maturidade artística e profissionalismo. (brinca) Vou ver se tem alguma data na minha agenda. (pausa) Aí eu esperei uma semaninha.

(o Mestre volta ao seu lugar, toma um vinho e fuma no escuro)

ATOR
(música no estilo Disney de sonhador)
Eu vou fazer o que eu quiser
Eu posso até chegar no céu
É só sonhar a vida inteira e escrever no papel

Se eu quiser vou ser um rei
Um puta ator superstar
Pois tudo aquilo que desejo posso conquistar

E mesmo não acreditando em Deus
Eu faço todo um ritual
Pois acreditar em magia pode ser legal

Eu vou fazer o que eu quiser
Porque eu quero acreditar
Eu vou plantar uma bananeira e você vai gostar

O que eu sonhei
Eu conquistei
O que eu quis aconteceu
Eu parecia uma criança, mas agora a vida o sonho devolveu

O que eu sonhei
Eu conquistei
A mágica vai comprovar
Só basta eu querer direito, se for desse jeito, sempre vou ganhar."

(ele corre alucinado gargalhando pelo palco)

ATOR
Eu tenho uma importância! Eu estou em sintonia com o universo! Um garotinho do interior realizando seu mais grande sonho. Um dos grupos mais conhecidos internacionalmente! E agora eu faço parte. Eu, garotinho da geração da Xuxa na nave espacial, menininho que achou que seria ninguém, que sempre viveu inseguro com sua disposição artística, e que sempre se fez maior do que era. Finalmente, trabalhando com importância, sendo artista de verdade, com registro em carteira! Mesmo que o personagem que ele me dê seja pequeno, mas que se foda isso! Eu estive acostumado à fazer protagonistas nos outros grupos que eu participei, mas tudo por uma questão de perfil, a barba deixa uma cara moldável e havia uma dificuldade de homens querendo fazer teatro nesses lugares, mas não vai ser agora que pegar um personagem pequeno vá me abalar artisticamente falando. Tudo é aprendizado, o importante é estar aqui e ser aceito. Eu não vejo a hora de entrar no túnel dos pelados!

(volta ao microfone)

ATOR
O que eu sonhei
Eu conquistei
O que eu quis aconteceu
Eu parecia uma criança, mas agora a vida o sonho devolveu

O que eu sonhei
Eu conquistei
A mágica vai comprovar
Só basta eu querer direito, se for desse jeito, sempre vou ganhar."


CENA 2

(o Mestre se aproxima)

MESTRE
O Carlos falou que você queria falar comigo.

ATOR
Oi. É que... você falou pra eu voltar aqui durante a semana. Na última apresentação, domingo passado.

MESTRE
Ah, sim. (se lembra) Sim, sim, sim. Claro. Venha aqui, vamos até a minha sala.

ATOR
(à parte) Cara, o Azevedo Castro tá me chamando pra entrar na sala dele! Eu odeio tietagem, mas eu tô parecendo um bebêzão tremendo na base. Eu vou cagar na calça! É o Azevedo Castro, caralho!

MESTRE
Eu só preciso terminar de organizar umas coisas, aí a gente vai lá pra minha casa, beleza?

ATOR
(à parte) Caralho! Eu vou na casa do Azevedo Castro! Puta que o pariu! Como eu posto isso no Facebook sem parecer mesquinho? Não, não vou postar nada.

MESTRE
Você fuma um baseado?

ATOR
Fumo sim. (pausa) Hoje não tem ensaio?

MESTRE
Hoje é a nossa folga. Você deu sorte, você quase não me encontra aqui. Escolheu o dia errado.

ATOR
Bota sorte nisso.

MESTRE
Mas tem maconha lá em casa. Você gosta?

ATOR
Gosto.

MESTRE
Legal.

ATOR
Legal.

MESTRE
Você curte música?

ATOR
Curto, curto.

MESTRE
Que tipo de música você curte?

ATOR
Ah, várias...

MESTRE
Caetano? Maria Bethânia?

ATOR
Eu gosto mais de umas paradas internacionais, também.

MESTRE
Hum.

ATOR
(à parte) Imbecil! Como fingir que você é mais culto do que é? Que estúpido! “Eu gosto mais de umas paradas internacionais”. Burro, burro! Eu não posso falar pro Azevedo Castro que eu gosto da Beyoncé. (volta) Eu adoro o Chico Buarque.

MESTRE
Hum. Eu tenho alguns CDs em casa. E qual música você gosta?

ATOR
Ah, vejamos... “Nós gatos já nascemos pobres, porém já nascemos livres...” Eu adoro o Saltimbancos, eu já fui o cachorro num teatro da escola.

MESTRE
(ri) E filmes? Gosta de filmes?

ATOR
Gosto. Adoro.

MESTRE
Você me lembra um pouco o Marlon Brando, sabia?

ATOR
Jura? Aquele que fez o Légolas do Senhor dos Anéis?

MESTRE
Não sei. Acredito que não.

ATOR
Acho que é sim. Marlon Brando. Mas ele não tem nada a ver comigo. O cara é um super gatão, galãzão.

MESTRE
Você também é super gatão. Sério.

ATOR
Para.

MESTRE
É sério. Você tem quantos anos?

ATOR
Vinte e três.

MESTRE
Tem cara de mais velho. Mais maduro.

ATOR
Obrigado. Bastante gente fala isso.

(silêncio)

MESTRE
E a sua tragédia?

ATOR
Oi?

MESTRE
Qual é a sua tragédia de vida?

ATOR
Como assim?

MESTRE
Vamos indo por aqui.

ATOR
(à parte) Aí a gente pegou um táxi e foi até a casa dele. Ele quis saber qual era a tragédia da minha vida, qual era a dor que me movia. Pelo que parece ele gosta de ouvir as desgraças da vida da pessoa. Eu contei que meu pai teve câncer, que morreu e deixou minha mãe comigo e com meus irmãos. Ele perguntou se eu era gay ou hétero. Aí falou que eu não parecia ser gay, que eu tinha cara de hétero. Eu até perguntei pra ele qual seria a cara de gay, porque isso é claramente um tipo de preconceito, não existe uma cara de quem é gay e de quem não é, eu só sou um gay cisgênero, mas é difícil você contestar um cara com a presença histórica do Azevedo Castro então eu deixei passar essa parada. Você fica meio paranóico de não ter cu pra discutir as suas convicções políticas e artísticas, manja? Perto de alguém como ele. E eu pensei melhor que aquele não seria um bom momento pra criar um problema, afinal eu queria mesmo era participar como ator do Transe em Terra, beijar a plateia na boca, trepar com as pessoas... enfim, estrear a minha carreira artística na cidade de São Paulo e mostrar o meu talento pras pessoas, finalmente. E ali estava eu fumando um baseado com o Azevedo Castro. Assim, não que eu seja o melhor ator do mundo, mas eu confio no meu taco. Não que eu seja um gênio, não que eu seja um puta artista criador, mas eu tenho minhas disposições artísticas em formação e uma ética pessoal, que eu não chamo de pudor, muito pelo contrário, que eu chamo de liberdade poética pessoal.

MESTRE
Você fez faculdade de teatro?

ATOR
Faculdade não.

MESTRE
Que bom. Creio que essas faculdades engessam os artistas de hoje em dia.

ATOR
Eu penso da mesma forma. Eu comecei a fazer teatro quando eu era criança ainda, lá em Porto Alegre. Mas eu fiz um curso. Um curso técnico de formação de atores. Todo mundo muito careta, por sinal, eu era um dos poucos que fumava um baseado.

MESTRE
Hum.

ATOR
Mas eu definitivamente acredito no desenvolvimento dado pela prática no palco. Sem dúvida nenhuma. A parte que eu mais gosto do seu trabalho, Azevedo, é que eu consigo perceber que...

MESTRE
E você trepa?

ATOR
Oi?

MESTRE
Você gosta de trepar?

ATOR
Ah, e quem não gosta, né?

MESTRE
Você sabe que no meu teatro nós condenamos o pudor, né?

ATOR
Sim, sem dúvida nenhuma. Eu sou muito fã do Transe em Terra. Eu sei que eu sou de uma geração de artistas bastantes caretas, mas... (o Mestre tenta roubar um beijo dele, que desvia em reflexo) Ai, desculpa. Desculpa. Eu fiquei nervoso.

MESTRE
Tá nervoso por quê? (o Mestre fica em pé deixando o pau próximo do rosto do Ator) Você com sua vidinha em Brasília, naquela bostinha de escolinha, não foi de conhecer muito essa liberdade paulistana do teatro dionisíaco?

ATOR
É que aqui só tá eu e você.

MESTRE
E qual o problema nisso?

ATOR
Eu não fico muito confortável...

MESTRE
Você não gosta de homens mais velhos?

ATOR
Até que gosto. Mas não é isso...

MESTRE
As bactérias se roçam, se sarram. Eu e você e um mamilo ouriçado. O seu pau na minha mão. (apalpa o pau do Ator)

ATOR
Espera um pouco! (empurra a mão do Mestre levemente)

MESTRE
O que foi?

ATOR
Mas aqui é a vida real. Tá me parecendo um pouco estranho.

MESTRE
Amado, isso aqui não é vida real. Tudo o que a gente faz é uma encenação dramática. Olha esse público aqui presente, pare um pouco de fingir. E eu venho lhe informar, meu novo amigo, meu novo amante – não sei se você sabe, mas – a cama é o palco. (tenta agarrar o Ator)

ATOR
Espera! Eu não sei se eu quero fazer isso. Não agora. Eu não consegui entrar no clima. Tá meio estranho. Não sei se foi assim que eu imaginei.

(o Mestre se afasta um pouco irritado)

MESTRE
Percebo que você é do tipo que está preso no passado. Nas experiências e ilusões passadas. O teatro do prazer vive o agora, menino. Você quer mais vinho pra se soltar?

ATOR
Tenho no copo ainda. É que eu não quero que depois as pessoas fiquem falando que eu só entrei pro Transe em Terra porque eu trepei com você, entendeu?

MESTRE
Percebo também que você vivencia tudo menos o instante momento. Que fica preso no futuro, no que os outros vão pensar. Você precisa se libertar, garoto.

ATOR
Eu acredito que eu seja bastante liberto, na verdade.

MESTRE
Eu vejo que não. Cheio de pudores.

ATOR
Não é pudores. Eu já trepei com homens mais velhos que você. Já trepei em banheiro de balada. Já chupei um homem e uma mulher no mesmo dia. É que eu não senti o clima.

MESTRE
Acho que você não está preparado ainda pra entrar no Transe em Terra. Aqui é a casa das experimentações...

ATOR
Pois quando tiver uma suruba, eu quero muito participar. O que eu achei estranho, Azevedo, você me desculpe, é que tá me parecendo um encontro desses comuns. Tente me entender.

MESTRE
E você esperava o que? Que eu soltasse fogo pelas ventas? Que meu pau tivesse vinte e quatro centímetros? Eu não tenho tanto tempo livre assim pra perder, amado. O que a gente está fazendo aqui?

ATOR
Como assim?

MESTRE
O que você quer afinal? O que você veio fazer aqui na minha casa?

ATOR
Você me disse pra eu voltar durante a semana. Eu voltei. Eu adoro muito o seu trabalho, é o tipo de teatro que eu queria muito fazer parte.

MESTRE
Acho que você não está preparado. Nós não somos mais amadores. Eu levo tudo com muita seriedade e profissionalismo. Mas você me fez ter uma boa impressão à primeira vista, quase como que uma paixão, um amor de verdade, e isso, essa sua defesa está me fazendo perder esse tesão pela sua figura, você entende? Essa sua atitude defensiva. Você estava certo em uma coisa, você vem de uma geração bastante careta.

(silêncio)

ATOR
Eu gosto muito de sexo. Mas eu não quero pagar a minha entrada no grupo com sexo. Eu já me prostitui uma vez, sabia? Algumas vezes. Cobrei cinquentão pra deixar um cara chupar meu pau. Acho que fiz umas quatro, cinco vezes isso. Não tenho vergonha de falar, eu achei super excitante, era pra comprar droga mesmo. Mas é que eu realmente gosto de teatro, e me importo com a minha carreira, me importo com a importância do Transe em Terra na história brasileira, e eu tô me sentindo desconfortável de não entrar por conta do meu talento...

MESTRE
Talento? O talento que me importa agora está dentro da sua cueca, meu amor. Simples assim.

(silêncio)

MESTRE
Acho que é melhor você ir embora, menino.

ATOR
Então... é isso?

MESTRE
Eu ganhei alguma coisa em troca pra dar esse presente à um jovem ator que ninguém conhece e que ninguém se importa com o que tem pra falar? Eu não acho que nós dois estamos sendo justos aqui. Há um abismo entre nós dois, amigo. Eu fiquei me sentindo perdendo, porque eu tomei um fora de mais um bonitinho.

ATOR
Me desculpa.

MESTRE
A vida é assim mesmo. Às vezes a gente desperdiça o nosso tempo com esses aspirantes.

(o Mestre volta ao seu canto)

ATOR
Eu voltei pra casa literalmente chorando. Chorando de verdade. O taxista até perguntou se tava tudo bem porque eu não consegui segurar o soluço. Um sonho meu que acabou em uma única noite. Um encontro com um mestre do mundo teatral brasileiro, transformado em teste do sofá barato. Eu poderia ter dado pra ele, ou ter comido ele. A questão não era essa. Foi que... ficou parecendo... ficou parecendo que não era certo. A coisa mais legal da minha vida é o teatro, e por dinheiro eu até me prostituo, mas por teatro eu acho que não! Ou então que fosse parte do ritual, que fosse em cena, que fosse parte do rito em grupo! (pausa) Como eu sou um idiota orgulhoso. Que orgulho imbecil. Eu só acabei de perder a oportunidade da minha vida por não querer dar uma gozada com um velho safado. (pausa) Eu preciso voltar lá! Isso não pode acabar assim!

(o Ator bate palma)

MESTRE
Quem é?

ATOR
Sou eu.

MESTRE
Ué. Voltou?

ATOR
A gente poderia conversar mais um pouco? Eu tô muito nervoso, deixa eu entrar.

(um foco inclui o Mestre na cena)

MESTRE
Pois não? (pausa) Você tava chorando?

ATOR
Eu fiquei pensando. Eu queria que você... que queria que você lesse um dos meus textos.

MESTRE
Você é escritor também?

ATOR
Eu gosto de escrever algumas coisas.

MESTRE
Hum. Você acha que pode me convencer a entrar no Transe em Terra por um suposto talento que você acha que tem.

ATOR
Eu pensei que você se importava com a sua arte, com o que pode acrescentar nela.

(silêncio)

MESTRE
Você é um cara muito corajoso, sabia?

ATOR
Corajoso por quê?

MESTRE
Você não baixa a bola. Você peita. Mesmo sendo uma criança ainda.

ATOR
Isso é bom ou é ruim?

MESTRE
Depende. Os garotos do seu tipo estão loucos para aparecer. Principalmente os aspirantes à modelos. Você se prendeu na sua convicção que não quer trepar com o diretor pra conseguir um papel na peça. Tem a sua força política e de convicção artística. Mas eu acho que você é burro, porque o que que você tem a perder? Quem é você hoje? Quem paga as suas contas pra você se importar com o que vão dizer?

(silêncio)

ATOR
Tudo bem.

MESTRE
Tudo bem o que?

ATOR
Acho que eu transo com você.

MESTRE
É mesmo, é? Eu pensei que você iria se segurar por mais tempo. Eu tenho um personagem que vai cair como uma luva, lindão... (ele começa a tirar a roupa e a beijar o pescoço do Ator)

ATOR
Espera um pouco.

MESTRE
O que foi agora?

ATOR
Tem que ser agora?

MESTRE
Você precisa se preparar? Eu não ligo, gato. Eu gosto do cheiro do suor.

ATOR
Eu queria mesmo que você lesse um texto meu antes.

MESTRE
Você tá falando sério?

ATOR
Pra eu ficar me sentindo melhor.

(silêncio)

MESTRE
(curioso) Vamos fazer o seguinte. Amanhã nós temos ensaio. Eu leio a porra do seu texto pra você mostrar o cu pra mim depois. Eu me importo com a minha arte o mesmo tanto que eu me importo com o meu pau, amado. Só pra você ficar sabendo. Depois do ensaio, será a sua chance.

ATOR
Ok. Muitíssimo obrigado, Azevedo Castro!

(as luzes deixam apenas o Ator em um foco)

ATOR
E definitivamente aquela foi uma semana de frustrações. No primeiro ensaio que eu participei, não foi nada daquilo que falavam. Não teve corredor de gente pelada, não teve maconha e nem vinho. Não teve ritual pra criação das cenas. Foi estranho, porque foi tudo praticamente muito comum. O teatro cenográfico de novo, do teatro marcado, passo por passo, três passos pra direita e dois pra esquerda. Repete-se uma única fala por mais de uma hora porque o ator não consegue falar na entonação que o Azevedo Castro pensa que é o correto, e muitas vezes eu até discordei dele, no formato da interpretação, achei tudo um tanto... falso. Eu não sei se foi porque eu tava ansioso e incomodado com a trepada que eu ia ter que dar logo mais, mas conhecer o backstage foi... foi mais frustrante do que ter que pensar que daqui a pouco eu iria ter que trepar com ele pra poder fazer parte disso, pra poder fazer parte de uma coisa que não parecia ser tão interessante assim vendo agora desse ângulo. As atrizes mais velhas mal olharam na minha cara, e os atores me olharam como concorrente. Uma ou outra pessoa me cumprimentou dignamente, mas os outros pareciam Procópios Ferreiras da nova geração. Um deles ficou cheio de frescura pra dar um beijo na boca de outro rapaz, e o elenco tirando sarro dele ainda, porque ele era hétero e tinha que fazer uma cena de beijo gay, numa clara homofobia disfarçada. Eu não entendi a graça. Porra! No Transe em Terra tem artista frescurento que não dá beijo gay, no Transe em Terra tem homofobia camuflada? Eu não consegui ser participativo e não consegui me apresentar pras pessoas naquele dia, mesmo com o Azevedo Castro tendo me incluído na roda final dando a entender que eu agora ia fazer parte deles, pra desgostos dos outros atores de mesmo perfil, e indiferença das madames primeiras atrizes. Eu os conheci eu como espectador e eles como personagens grandes e sensuais, era essa a visão que eu tinha dessas pessoas. Eu as coloquei num pedestal porque em cena eles era um arraso, eles eram grandes e poderosos! O Azevedo Castro era um arraso em cena, um filho de uma puta de um ator! Mas os vendo como pessoas normais como a gente que caga, que mija, que tem inveja e que também tem pudor, toda aquela magia se escureceu em um segundo, não existe pedestal nenhum! (pausa) Espere um pouco! Isso aqui é um teatro histórico! Quem sou eu pra contestar? Esses caras são bons pra caralho! Eu sei que eu tô sendo um mesquinho, eu sei que estou! Eu tô negando a oportunidade que o universo está me proporcionando por frescura em ética artística, por uma encanação barata! Quem se importa com essa ética pessoal e intransferível? Vai fazer que diferença no mundo, seu atormentado? (pausa) Puta, que merda! Que crise que eu fui me envolver! Tudo o que a gente sonha a gente pode conseguir, mas o universo não tem culpa se a gente não consegue ser específico todas as vezes. O que eu faço da minha vida agora?

MESTRE
Vamos lá pra casa, bonitão?

ATOR
Vamos sim. Você leu o meu texto?

MESTRE
Li sim. E me apaixonei mais ainda por você.

ATOR
Ah, cala a boca.

MESTRE
Tô falando sério. Eu estou apaixonado por você de verdade. Você é um grande dramaturgo.

ATOR
Você é bom de lábia, é diferente.

MESTRE
Você acha que é da boca pra fora. Minha vida inteira é pautada nos amores que eu levei pra dentro da cena, amado. Cada espetáculo que eu faço eu preciso do combustível de estar amando pra acontecer.

ATOR
Você só quer trepar, cara. Fala sério.

MESTRE
Juro que não. Não é assim que funciona comigo. Eu sou de outra geração, garoto.

(silêncio)

ATOR
(à parte) Espere um pouco. É pior do que eu tava pensando. Ele está tentando me convencer de que tudo isso ainda é romance. Romance? Jura? (retorna) Eu achei que você fosse do tipo poligâmico.

MESTRE
Eu já estou velho, rapaz. Meus amantes me trocaram e me trocam o tempo inteiro por outros amantes.

ATOR
E eu acho isso muito legal, com bastante liberdade.

MESTRE
Eu já me carburo e me sustento com o meu amor, o amor do meu momento... Acho que você está aos poucos entrando nessa lista.

ATOR
(à parte) Ele deve tá zoando com a minha cara. Ele deve achar que eu sou um moleque que pensa que é artista, desse tipo que quer virar celebridade. Claro que eu quero ficar famoso, que eu quero ser reconhecido pelo meu trabalho! Mas eu quero mesmo é discutir teatro, eu quero trabalhar, eu quero me expressar, eu quero dançar, eu quero cantar. Eu não sei se eu aguento essa chantagem emocional. Amor? Jura que ele tá jogando esse joguinho de amor?

MESTRE
A cama...

ATOR
(grita) É o palco! É o palco! Todo mundo já ouviu!

(silêncio; o Mestre acha curioso a empeitada do Ator)

MESTRE
Eu adorei o seu texto. Eu quero experimentar o teu sabor. Eu adoro um jovem atormentado.

ATOR
(à parte) Quem ele pensa que é pra brincar com a minha vida desse jeito? Eu tava quieto no meu canto.

(o Mestre se ajoelha frente à ele e abre a sua calça; ele realmente chupa o pau do ator)

ATOR
Eu acho que devia ser proibido uma pessoa passar por uma chantagem emocional desse nível. Eu estou consentindo, mas ao mesmo tempo que não. Me sentindo abusado, porque que idiota perderia uma oportunidade dessa? Que idiota... perderia... uma oportunidade... dessa... (ele goza; o Mestre sai cuspir e volta)

MESTRE
Foi difícil pra você?

ATOR
Não.

MESTRE
Bem vindo ao Transe em Terra, menino!

ATOR
(desgostoso) Obrigado, Mestre Azevedo Castro. Muitíssimo obrigado pela oportunidade.

(black-out; quando as luzes se acendem, o Ator canta como se estivesse em um show)

ATOR
Não teve suruba nenhuma
Ninguém partilha a maconha
Há competição de quem é o melhor
Ator tendo vergonha de dar um beijo gay

Que careta que eu sou
Que caretas que eles são

Que careta, é mentira, não é um ritual
É um teatro fake, o meu é igual
Que mentira,
Meu deus, que mentira!
Cadê a expectativa?
Que careta...

ATOR
Eu não vou ter outra oportunidade dessa na vida. Eu vou aguentar pelo menos por um tempo, eu preciso me lançar em cena. É difícil conseguir um edital pra ficar tranquilo com grana e trabalhar com isso que a gente gosta. É tudo muito difícil nessa nossa vida.

(black-out)


CENA 3

(a luz se acende em um foco)

ATOR
(vai até um espectador, tira a camiseta dele e começa a lamber os seus mamilos dando o texto) Quem te serve? Quem me serve? Me serve pra quê? Tem que ter alguma coisa. As bactérias se roçam, se sarram. Eu e você e um mamilo ouriçado. O seu pau na minha mão. Posso? (pede para o espectador se ele pode apalpar o pau dele)

MESTRE
(entra gritando) Posso? Que posso? Que “posso” é esse?

ATOR
Eu senti a necessidade de pedir licença, porque...

MESTRE
Isso aqui é teatro, meu amor! A plateia está passiva à você, você tem que entender isso.

ATOR
Eu não me sinto ativo contra o público. Eu me sinto... igual. Eles tem o mesmo poder de acabar com essa apresentação a hora que eles quiserem. Você viu o que aconteceu com aquele cara que tava montando o musical do Chico e foi interrompido no meio da peça? Então. Eles têm esse poder também...

MESTRE
Cara, você contesta muito, sabe? O ator, ele não se justifica. Anote isso. Um ator não se justifica nunca.

ATOR
Mas é que...

MESTRE
Não. Não se justifica. Pronto e acabou.

ATOR
Não tem essa de pronto e acabou.

MESTRE
Você fala demais cara. Fala demais e faz pouco trabalho.

ATOR
Você tá voltando essa cena há duas horas já. Eu acho que do jeito que eu falei soou mais natural do que o jeito que você falou pra eu falar. Soa piegas demais daquele jeito. E você tá pegando no meu pé por birra. É por outra coisa...

MESTRE
Fala sério.

ATOR
E eu acho que eu tô fazendo uma enganação com o cara se eu apalpar o pau dele sem pedir. O que você acha sobre isso, cara? Eu perguntar pra você se eu posso não é mais confortável? (pergunta para o espectador; pode haver alguma improvisação para a resposta dele)

MESTRE
Mas acontece que o diretor do espetáculo aqui sou eu. Quem é você, cara? Quem é você? Quem disse que a plateia tem que ficar confortável? Quem é você? Eu pergunto.

ATOR
Eu não sou ninguém. Eu cago e eu mijo. Você não? Você caga cheiroso? Eu cago fedido.

MESTRE
Quem se acha o cagador de perfume aqui é você. Você tá me contestando demais.

ATOR
Eu tô assim, cara, porque eu era apaixonado por tudo isso enquanto eu era espectador. E agora sabendo que não tem putaria nenhuma, não tem ritual, as pessoas aí nem gostam de mim, tem uma síndrome de Procópio Ferreira, e três passos pra cá e três passos pra lá, eu tive que deixar você chupar meu pau pra estar aqui... isso não tá sendo fácil de digerir, entendeu? Se eu não tô trepando com ninguém por prazer real porque que o coitado do cara que pagou pra entrar aqui vai ter que receber uma passada de mão no pau gratuitamente?

MESTRE
Porque eu sou o Azevedo Castro. Você pode ir lá fazer o seu teatrinho, se você quiser. Eu te passo até um modelo de projetinho pra ver se você consegue um patrocínio sozinho.

(silêncio)

MESTRE
Vai abrir mão?

ATOR
Por que só eu tenho que vir ensaiar na sua casa? Por que os outros não precisam?

MESTRE
Eu tenho a minha nova paixão, eu preciso dela pra me inspirar.

ATOR
Você de novo com isso.

MESTRE
Você acha que eu tô sendo xavequeiro, você não tá acreditando, mas esse seu jeitinho me deixou muito curioso. Eu juro mesmo. As pessoas aceitam tudo o que eu falo. Porque eu sou essa figura, eu sou o Azevedo Castro, nesse imagético, nessa imagem que fizeram de mim. Você não. Você é diferente.

ATOR
Que mimado que você deve ser, né?

MESTRE
É difícil de fazer uma amizade ou de encontrar um amor verdadeiro nesse caminho, garoto. Exatamente por causa disso. Todo mundo quer me impressionar. A maioria arreganha logo o cu já dentro do meu escritório, antes de beber um vinho em casa. Muitos deles eu enrolo e depois nem fazem parte de espetáculo nenhum ainda.

ATOR
Isso é muito cruel. É brincar com o sonho das pessoas.

MESTRE
E os meus sonhos? Não contam? Eu não sou um galã, tô velho. É o jeito que eu tenho de trepar, moleque. Eu sou carente de romance mesmo, você me pegou.

(silêncio)

ATOR
Eu não quero parecer que eu tô tentando ser melhor que você, Azevedo. É que eu sou uma pessoa difícil. Você fica falando de paixão, de amor... tem a minha carreira profissional em jogo, que é a minha vontade de estar aqui... isso tá me deixando... me fazendo sentir pressionado, sabe?

MESTRE
Você é só um molecão mesmo. Que eu já amo de verdade desde aquele domingo.

ATOR
Você não ama nada. Isso é besteira! Para de falar isso.

MESTRE
Eu amo sim. Você pode não acreditar, mas eu tô pegando no seu pé porque eu amo você. Você tá muito nervoso hoje, cara. É dinheiro? Se você quiser dinheiro, eu te dou dinheiro. Dinheiro não é problema.

ATOR
Não é dinheiro...

MESTRE
Então vamo viver o agora. Você fica muito preocupado, muito atormentado.

ATOR
Mas a sua arte não tá mais me soando verdadeira! É isso! Eu sinto que você é um mentiroso depois que eu te conheci!

(silêncio)

MESTRE
(se irrita) Então tá bom. A porta da rua é serventia da casa. A gente tá quase pra estrear o espetáculo e a pior cena é essa sua, mas mesmo assim vai ser muito duro não se lembrar dessa pisada de bola do aspirante à gênio teatral, porque o coitadinho tá se achando abusado sexualmente pelo diretor malvadão e (imita) “Ninguém me entende! Ninguém entende a minha ética artística! As pessoas são falsas. As pessoas são mentirosas! O que eu sonhei, eu conquistei!  Só eu sei como fazer um teatro de verdade, mas eu tenho vinte e cinco anos e eu não sou ninguém ainda! Oh, vida! Oh, céus!” (silêncio) Você me machuca e eu te machuco. Eu sou mais experiente que você em romance de gato, e inclusive com o teatro. “Me alimentaram. Me acariciaram. Me aliciaram. Me acostumaram.” Você desiste ou tem cu pra aguentar a vida real?

ATOR
Eu tenho cu.

MESTRE
Então faz a cena de novo e aí você vai pegar no pau dele sem pedir.

ATOR
(à parte) E quando você não acredita na arte que tem que se submeter, seja por motivo que for, seja por pudor ou por convicção, ou por divergência artística ou política? Seja por motivo que for! O que fazer? Se vender sem o menor prazer?

MESTRE
Vamos começar pelo começo!

(black-out)


CENA 4 

(luz)

ATOR
Boa noite. Bom, como todo mundo sabe a minha pesquisa é sobre a Cia Teatral Transe em Terra do renomado Mestre Azevedo Castro. Pra fazer essa minha apresentação eu conversei com dois artistas que passaram pelo Transe em Terra e com base nessa conversa eu tentei dissertar sobre como funciona a produção e as escolhas artísticas do grupo. Como todo mundo sabe também, o Transe em Terra participa ativamente das lutas sociais aqui do Brasil e teve um trabalho incrivelmente importante durante a ditadura. O Azevedo Castro foi exilado, foi torturado e, artisticamente trouxe um novo jeito do fazer teatral para o Brasil. O Azevedo Castro acredita pra caramba no teatro ritual, no teatro da verdade que não engana o espectador. (pausa) No teatro que não engana o espectador. Que não engana o espectador, que não mente. Do teatro da verdade, que fala a verdade. Que fala a verdade do que sente. Que não engana o espectador. Um teatro da verdade. Que vende o que se sente. E vende um sonho. Um sonho da verdade. Que não engana o espectador. Que não engana o espectador mesmo sendo teatro. Mesmo sendo encenação. Um teatro que não engana o espectador. (pausa) Mas espere um pouco. É claro! O culpado disso tudo no final das contas sou eu mesmo! Eu sou o culpado porque a arte é uma coisa pessoal e intransferível. Se você não quer se submeter então você precisa dar o seu pulo, você precisa dar o seu pulo de artista sozinho pra falar o que pensa! Ele inventou que ele era um mestre e que ele podia, e aí a fé nisso fez as pessoas darem o mérito – merecido por sinal, muito bem merecido –, porque ele é um bom enganador porque ele é realmente um bom ator! E eu não posso viver lambendo as bolas de ninguém, não desse jeito, na pressão, fingindo que tô de pau duro quando não tô. Eu também não nasci pra isso, pra falar uma coisa que eu não acredito de verdade. Eu percebi que eu não consigo, que eu sofro muito. Mesmo sendo tachado de mesquinho por muitos, porque obviamente eles lá do elenco devem ter rido, comentado dessa minha tentativa orgulhosa em se sentir superior pra poder dizer pros outros o quanto eu sou um fodão que eu ATÉ tive a coragem de negar a oportunidade de brilhar num espetáculo do internacionalmente famoso Azevedo Castro! Não é isso. (pausa) Eu fiz duas temporadas com o Transe em Terra, que foi muito importante pro meu crescimento artístico e pessoal. Principalmente de cunho pessoal. (pausa) Mas no fim das contas tudo o que eu queria na verdade era que tivesse um tunel de gente pelada. Isso era tudo o que eu mais queria, na real. O sonho é mais bonito aqui dentro da cachola. Eles se realizam mesmo, acontece igual nos filmes mesmo, nas músicas e nos livros de auto-ajuda. Tudo o que você quiser pode acontecer. Mas ele é mais bonito enquanto é expectativa. O pedido ao universo tem que ser um pouco mais específico na próxima. Pra gente não se frustrar, porque esse é um dos piores finais felizes que alguém pode ter.

(o Mestre entra com outro figurino grandioso; o Ator está como espectador novamente)

MESTRE
"O que eu sonhei
Eu conquistei
O que eu quis aconteceu
Eu parecia uma criança, mas agora a vida o sonho devolveu

O que eu sonhei
Eu conquistei
A mágica vai comprovar
Só basta eu querer direito, se for desse jeito, sempre vou ganhar."

(o Mestre agradece ao público no final de sua apresentação; ele se desmonta do personagem; o Ator se aproxima um pouco tímido)

MESTRE
Oi, amado. Que surpresa. Você veio.

ATOR
Eu vim.

MESTRE
Quanto tempo, hein. Você tá bonitão. Cada vez mais.

ATOR
Obrigado.

MESTRE
Gostou da peça?

ATOR
Se eu percebi as indiretas, Mestre? Percebi sim.

MESTRE
Indiretas? O que?

ATOR
(para a plateia) Dois meses depois que eu decidi sair do Transe em Terra eu fui ver o novo espetáculo deles e aí eu senti que havia várias indiretas pra mim no meio do espetáculo porque ele sabia que eu viria. Eu não ia deixar de falar que eu percebi, porque... porque eu sou bocudo e porque eu não sou obrigado. Ao mesmo tempo que eu me senti importante eu fiquei com muita raiva.

MESTRE
Você tem clara mania de perseguição. Deveria maneirar na maconha de vez em quando, garoto. Maconha faz isso mesmo. O mundo não gira em torno do seu umbiguinho, amado.

ATOR
Pode ser. Ou pode ser que não.

MESTRE
Você não quis acreditar no meu amor. E ainda volta pra ficar jogando na minha cara o quê? O que você quer? O que você veio fazer aqui?

ATOR
Na verdade eu acreditei sim. No tal do seu amor que você dizia. Eu acreditei que você realmente estivesse falando de amor mesmo. E foi exatamente por isso que eu decidi fugir de você.

MESTRE
Como assim?

ATOR
Porque, se você pensar bem, não era você que estava se aproveitando de mim se o seu amor por mim era tão verdadeiro como você diz. Quem estava se aproveitando de alguém nesse caso era eu. (silêncio; o Mestre entende com seriedade e incômodo) Aproveitando da sua celebridade pra me lançar no meio teatral mesmo eu acreditando em uma arte diferente, mesmo eu não sentindo nem um pingo do amor que você diz que sentia por mim. Eu não podia continuar fazendo isso com você. Eu estaria sendo egoísta e abusador...

(um silêncio)

MESTRE
Hum... Você diz... Uma arte diferente...

ATOR
Me desculpa.

(silêncio)

MESTRE
Você é um lazarentinho. E o pior é que é exatamente isso o que eu gosto, gostei em você.

ATOR
Desculpa. (retira um pacote com um texto de uma mochila) Meu pedido de desculpas. Escrevi um texto de ficção pensando nessa nossa experiência... Espero que não se ofenda.

(o Mestre pega o pacote de papel e guarda em silêncio)

MESTRE
Explica aí que arte é essa sua especial?

ATOR
Oi?

MESTRE
Que arte diferente é essa sua que você tanto fala? Qual é a sua tão maravilhosa e intransferível arte, garotão? Que você não se encaixou comigo, que você me "negou" o amor?

ATOR
É pessoal... complicado.

MESTRE
Mas você precisa de um público, não precisa? Não precisa?

ATOR
(pausa) Será que preciso?

MESTRE
Será que não precisa? Mostre pra mim. Me cative que eu vejo se você vale o preço da venda.

ATOR
Como assim?

MESTRE
Faz aí!

ATOR
Tipo agora agora?

MESTRE
Tipo agora agora. Você não sabe chorar?

ATOR
Então tá.

(o Ator se posiciona no microfone empoderado)

ATOR
Uma cena que tenha suruba
Entretenimento pra dar
Que ninguém se ache o melhor do melhor
Nem tenha vergonha pra dar um beijo na boca

MESTRE
Que careta que eu sou

ATOR
Que careta que você é

MESTRE
Que careta que você é

ATOR
Que careta que eu sou

ATOR E MESTRE
Que careta, é mentira, é tudo igual
Nada se cria, não é ilegal
Que mentira
Tudo se copia!
E a expectativa?
Que careta...

(eles entram em uma sintonia de simpatia um pelo outro)

MESTRE
No meu tempo foi igual, menino. Alguém também fez o favor de ser grosseiro comigo, de dizer que eu não servia pro teatro. Alguém abusou da minha juventude também. E eu trouxe isso pra cena, eu não fiquei choramingando pelos cantos, igualzinho o que você tá fazendo aqui agora. Igualzinho esse pedido de desculpas. Isso é muito impressionante. Os amores e os desamores se refletem na arte, na minha, na sua. Sua ética política e sua vontade de se expressar é a obra que vai ser exposta afinal. É assim que funciona, garoto. Você é uma pessoa. E eu também sou uma pessoa. E é assim que a gente segue.

(silêncio)

ATOR
Foi mal.

MESTRE
Tudo bem.

ATOR
Você sai pra um lado e eu saio pro outro então?

MESTRE
Beleza. Se você achar melhor...

ATOR
Beleza.

MESTRE
Então tá.

(eles vão sair)

ATOR
(volta) Ah! O Marlon Brando não é o cara que fez o Legolas, não. O Legolas é o Orlando Bloom. Eu fiz confusão.

MESTRE
Legal.

ATOR
Eu nasci nos anos noventa, né?

MESTRE
Eu sei. É claro.

ATOR
Até mais, então. Parabéns.

MESTRE
Até. (pausa) Parabéns também...

(eles se cumprimentam e cada um sai para um lado, black-out)


FIM





DO ARMÁRIO

ABERTURA/INTERVENÇÃO SOCIAL/EXTERNA/DIA/UMA PRAÇA

O FILME INICIA COMO UMA DESSAS EXPERIÊNCIAS SOCIAIS E BONITINHAS FILMADAS PARA A INTERNET. CÂMERA NO ESTILO FOUNDFOOTAGE. UM RAPAZ COM UMA MÁSCARA EM UMA PRAÇA COM UMA PLAQUINHA “SOU GAY, VOCÊ ME ABRAÇA OU ME MATA?”. AMADORAMENTE, A CÂMERA FAZ OS CORTES DE PESSOA EM PESSOA QUE DÁ UM ABRAÇO. GENTE DE TODO TIPO E IDADE. MUSIQUINHA EMOCIONANTE QUANDO CRIANÇAS DÃO UM ABRAÇO EM GRUPO. INESPERADAMENTE, UM HOMEM ENCAPUZADO SURGE COM UM UM PEDAÇO DE PAU E BATE NA CABEÇA DO RAPAZ. GRITARIA E CORRERIA E VIOLÊNCIA; ALGUNS AMIGOS DO ENCAPUZADO AJUDAM NO ESPANCAMENTO, A CÂMERA PEGA A CENA TREMIDA. CORTE DO VÍDEO.

O NOME DO FILME APARECE:

DO ARMÁRIO”


CENA 1/EXTERNA/DIA/RUA

HELÔ E JU CAMINHAM DECIDIDAS POR UMA RUA; HELÔ ANDA MAIS RÁPIDO, COM RAIVA; JU A ACOMPANHA MEIO CONTRARIADA.

HELÔ
A questão é: eu não sou obrigada. Você é obrigada? Nem eu.

JU
Meu deus, Helô, mas que caramba! Eu sei! Eu só tô querendo dizer: o que é que você vai fazer? Entendeu? Vai chegar lá e vai dar um murro na cara dele?

HELÔ
Na hora a gente vê.

JU
Como assim “na hora a gente vê”, Helô?

HELÔ
Na hora a gente vê! Eu tenho que olhar ele no olho. Idiota. Eu não acredito que ele falou isso, Ju. E eu nem posso contar pra minha vó, né? Mas que dá vontade dá!

JU
Lógico que não. Não faça isso.

HELÔ
Você pegou os prints, né, Juliana?

JU
Peguei, peguei. Vai dar merda isso. Não vá bater nele, Helô.

HELÔ
Você não me segure. Se eu quiser bater eu vou bater.

JU
Ai, meu deus do céu...


CENA 2/INTERNA/DIA/COZINHA E QUINTAL DA CASA DE GU

GU E LEO COMEM QUALQUER COISA NA COZINHA EM UM SILÊNCIO ESTRANHO.

LEO
Não comenta com ninguém.

GU
Você também.

LONGO SILÊNCIO.

LEO
Eu não tenho costume de fazer isso não.

GU
Nem eu.

SILÊNCIO.

HELÔ ENTRA SEGUIDA POR JU.

HELÔ
Oi.

GU
Oi.

HELÔ
Você tava fumando maconha aqui dentro, Gustavo?

GU
A gente fumou lá fora.

HELÔ
Cadê a vó?

JU
Oi, Léo.

LEO
Oi, Ju.

GU
Oi, Ju. Foi na casa da Dona Lúcia levar a santinha.

HELÔ
E o que que as duas bichas tavam fazendo aqui? Hein? Cabelo molhado...

GU
Fumando. Larga a mão de ser cuzona. O que cê quer?

JU
Tem uma pontinha aí?

LEO
Tem.

JU
Eba!

HELÔ
(QUASE GRUDANDO A UNHA NA CARA DELE) Gustavinho, seu bostinha, eu quero matar você. Que raiva que eu tô dessa sua cara de cínico!

GU
Eita, o que que eu fiz? Tira a mão de mim! Tá louca?

HELÔ
Eu quero conversar em particular um instantinho com você. Ju, leve o Leo lá no quintal. Não! Vem você aqui no quintal, fiquem vocês dois aqui. Dá aqui a bolsa, Ju. Venha, Gustavo, caralho!

GU
Ai, meu deus, mas que saco, meu. O que foi agora?

ELES VÃO ATÉ O QUINTAL.

JU
(EM OFF) Não vá matar ele, Helô! Ele é seu parente!

HELÔ
Que merda é essa, Gu? (MOSTRA OS PAPÉIS COM PRINTS DE UMA CONVERSA NO FACEBOOK)

GU
O que?

ELE LÊ RÁPIDO.

GU
(DESCOBERTO) Ai, meu deus do céu...

HELÔ
Meu deus do céu o que? Meu deus do céu eu que falo, Gustavo.

GU
Você sabe que é mentira isso.

HELÔ
É lógico que é mentira. É por isso mesmo, seu retardado! Eu vou te bater, Gustavo! Fala!

GU
O que você quer que eu fale?

HELÔ DÁ UM TAPA FORTE NO BRAÇO DELE.

HELÔ
Seu merda! Olha o que você tá falando de mim. Quem que você pensa que eu sou? Hein?

GU
É porque... porque...

HELÔ
“Porque... porque...” porque o quê? Fala!

GU
Eles ficam tirando sarro da minha cara. Você fica tirando sarro da minha cara. Fica todo mundo tirando sarro da minha cara.

HELÔ
O que?! (SEGURA ELE COM VIOLÊNCIA) Eu vou arrancar sangue dessa sua boca, Gustavo. Pede desculpa logo, seu verme! Que raiva, Gustavo! Eu não tô acreditando nisso!

GU
Fica todo mundo me chamando de viado. E eu não aguento isso, por isso que eu falei... Desculpa, Helô, desculpa! Você não sabe como é a minha vida também!

HELÔ
Ah, ficam te chamando de viado. Meu deus. Eu não tô acreditando. Que dó que eu tô dele agora. Você quer que eu sinta dó de você ainda, Gustavo?

GU
Não...

HELÔ
E aí porque te chamam de viado você se achou no direito de ficar espalhando pra todo mundo que eu dei pra você em quatro posições diferentes, QUATRO POSIÇÕES DIFERENTES DETALHADAS, Gustavo? E a desculpa é por causa que o mocinho não aguenta ser chamado de viado, mesmo todo mundo sabendo que ele é viado mesmo só que não se assume de vez!

GU
Pára...

HELÔ
É disso que você quer que eu tenha dó, lindinho, é isso? (LÊ) “Ela chupou o meu bilau e depois a gente foi pro chuveiro, eu tinha treze e ela tinha dezessete”. “Antes de ser lésbica ela parecia curtir muito um pau”, “kkkkkk”. Olha pra minha cara, Gustavo! Fala sério! Imagina se o meu pai vê isso, animal? Se vai parar no ouvido da vó! Você já imaginou o que ia acontecer nessa família, Gustavo? Puta que o pariu, cara!

GU
Eu sei, desculpa...

HELÔ
Desculpa é o caralho!

GU
Eu já pedi desculpa! Desculpa, meu!

HELÔ
E eu já falei que desculpas é o caralho! O que você vai fazer? O que é que você vai fazer à respeito disso agora?

GU
Eu não quero ser gay. (ELE CHORA)

SILÊNCIO; HELÔ FICA UM POUCO ABALADA, MAS NÃO MUITO.

HELÔ
Você não me envolva mais nos seus problemas. Ouviu? Eu não tenho nada com as suas coisas. Se assuma de uma vez, faça o que você quiser! Mas falar que me comeu pros amiguinhos não te chamarem mais de viadinho, vai tomar no meio do seu cu, Gustavo. Você trate de desmentir essa merda e nunca mais pense em falar uma coisa dessa de novo. Eu devia cortar sua língua!

GU
É mais fácil ser lésbica do que ser gay.

HELÔ
É mais fácil a minha buceta!

GU
Seu pai e sua mãe te aceita. A vó e o tio não vão me aceitar jamais.

HELÔ
Eu não tenho nada a ver com seus problemas, Gustavo. Cresça e se resolva!

ELA PEGA OS PAPÉIS DE VOLTA E SAI. GU FICA SOZINHO CHORANDO.

HELÔ
(EM OFF) Não é pra fumar aqui dentro, caralho, se a minha vó sentir o cheiro vocês tão fudido. Vamo embora, Ju. Vai lá dar um beijinho no seu namorado, Leonardo.

GUSTAVO ESTÁ VISIVELMENTE DERROTADO.


CENA 3: VÍDEOS/GUSTAVO NO COMPUTADOR

A CENA DO GAY SENDO MORTO SE REPETE NA TELA DO YOUTUBE. ALGUNS VÍDEOS REAIS DE VIOLÊNCIA CONTRA LGBT SE MISTURAM AOS VÍDEOS DE FICÇÃO. UM VÍDEO DE TROLAGEM NA MÃE, DE UMA JOVEM FINGINDO SER LÉSBICA. A MÃE SE REVOLTA E QUASE ACONTECE UMA TRAGÉDIA, COM A MÃE ENLOUQUECIDA APONTANDO UMA FACA PRA FILHA.

GUSTAVO ESTÁ FRENTE AO COMPUTADOR ASSISTINDO TUDO ISSO.

GU
(NARRA) No fim das contas, você tem duas opções nesse momento da vida:


CENA 4: EXTERNA/DIA/MESA DE BAR

GUSTAVO ESTÁ NO MEIO DE OUTROS GAROTOS.

GU
Naquela época ela não era lésbica não. Gostava bem de rola sim.

TODOS RIEM.

RAPAZ 1
Quem nunca comeu uma prima? (RI)

RAPAZ 2
É. Só que aí ela virou lésbica, né?

RAPAZ 1
Não deu conta, Gustavão! Iiih.

GUSTAVO
Nada a ver, gosto é gosto. (VÊ ALGUÉM) Olha a Camila! Aquela gostosa! Iiih, veio com viadinho do Leonardo.

RAPAZ 3
Diz que ele assumiu, né? Nem dá mais graça zoar.

GUSTAVO
Na cara não, mas dá pra zoar escondido.

RIEM.

GUSTAVO
Você já percebeu que toda gostosa vem acompanhada de um amigo viadinho? Ai, se eu pego essa Camila.

ENQUANTO OS AMIGOS CONCORDAM, GUSTAVO MEIO QUE ENGOLE EM SECO QUANDO LEONARDO PASSA E CUMPRIMENTA.

GU
(NARRANDO) Ou o medo vira força de luta.  


CENA 5/INTERNA/DIA/ESTÚDIO DE TATUAGEM

GUSTAVO, TODO EMPOLGADO, TATUA UMA BANDEIRA LGBT NO PULSO AO SOM DE LADY GAGA. ELE DEMONSTRA MUITA LIBERTAÇÃO E FORÇA DURANTE O ACONTECIMENTO.  


CENA 5/INTERVENÇÃO SOCIAL/EXTERNA/DIA/UMA PRAÇA

CLOSE NO ROSTO DE GUSTAVO. ELE ESTÁ TRANQUILO E DECIDIDO. ELE VESTE UMA MÁSCARA E É O CARA COM A PLAQUINHA “SOU GAY, VOCÊ ME ABRAÇA OU ME MATA?”. ELE LEVANTA O PULSO COM A TATUAGEM GRANDIOSAMENTE EM FORMA DE PROTESTO. ALGUMAS PESSOAS O ABRAÇAM.

GU
(NARRA) E aí você levanta bandeira sim. Fica mais afeminado só de raiva, só de raiva. (PAUSA; OUTROS O ABRAÇAM) E morre.

O ENCAPUZADO SURGE COM OS AMIGOS E INICIA O ESPANCAMENTO AOS SONS DE GRITO DE LEONARDO QUE FILMA TODA A CENA. O ENCAPUZADO GRITA DIRETAMENTE PARA A CÂMERA; ELE É O PRÓPRIO GUSTAVO:

GU
Morre viadinho filho da puta!

A CENA CONGELA NA EXPRESSÃO DE RAIVA DE GUSTAVO.


FIM

SUGESTÕES DO AUTOR (TOP 10)


RESUMO: Introdução e estudo da famosa (e fictícia) Cia de Teatro Transe em Terra. Um jovem artista apresenta seu trabalho e sonho sobre a história do grupo e seu ilustríssimo Mestre Azevedo Castro em uma típica apresentação acadêmica. Um sonho que finalmente se realiza, virar artista do "tipo grande", fazer parte da histórica companhia por convite pessoal do grande Mestre. Para toda escolha uma renúncia, para cada preferência artística um tipo de suor diferente. Vale a pena a prostituição barata em nome do mercado teatral?
ASSUNTO: Arte
PERSONAGENS: ATOR e MESTRE AZEVEDO CASTRO
RESUMO: Ficção que ilustra a disputa de espaço entre o burguês e o pobre. Todo mundo precisa de um canto nessa terra, mas enquanto uns não tem nada, outros se acham no direito de ter o triplo, mesmo que o espaço esteja apodrecendo. Enquanto uns vêem beleza na flor que nasce no muro frio, outros sentem prazer no ter mais que o outro simplesmente por poder sobre o outro. A morte da inocência é consequência dessa injustiça.
PERSONAGENS: Hahá, Émeu e Passarinha
ASSUNTO: Direito ao espaço/Luta de classes
Sinopse: Jesus - ou um cara vestido de Jesus - volta ao mundo para tentar entender o que faz duas pessoas que cresceram nas mesmas condições sociais e financeiras tomarem rumos diferentes na vida. Num mundo onde a lei ficou mais rígida com a punição, noventa e nova por cento dos casos criminosos são resolvidos e o povo apoia o "olho por olho, dente por dente". Mas até quando a violência pode ter força até do lado dos que se dizem "de bem"?
Tema/descrição: Direitos Humanos
Personagens: PERSONAGENS: LUCIANO FERREIRA, LUCIANO FERRADO, FAMÍLIA FERREIRA (PAI, MÃE, TIO, TIA, PRIMA, ETC), FAMÍLIA FERRADO (PAI, MÃE, TIO, TIA, PRIMA, ETC), ESPOSA DE LUCIANO FERREIRA, GAROTA, PARTEIROS, POLICIAIS, BANDIDOS, TREINADORES, REPÓRTERES, REPÓRTER A, MÉDICOS, JESUS CRISTO.
Sinopse: As convicções de personagens avulsos se cruzam na realidade; todas as nossas teorias podem ser quebradas com mais experiência ou estudo. Hoje alguém é a favor da pena de morte, amanhã seu filho é o réu. Hoje alguém tem convicção na vida após a morte; depois de morrer, talvez não pense mais nisso.
Tema/descrição: Incertezas/Mentiras/Hipocrisias
PERSONAGENS: GUILE, LEANDRA, EFIGÊNIA, LAIO, IGOR, LETÍCIA e CESARINA.
Sinopse: Musical que não é um auto-ajuda.
Tema/descrição: Um segredo
Personagens: Quatro atores.
Sinopse: Uma encenação para ensinar um menino considerado caso perdido. As bruxas professoras buscam meninos maus para dar de comida para um monstro. A operação deve dar certo, porque ninguém acredita nessas coisas de fantasia.
Tema/descrição: Bullyng
Personagens: Víbora (Professora Mariela), Mongo (Clóvis), Malvina (Laurinha) e Julinho. 
RESUMO: "Moisés tem mel", mamãe dizia. E no quarto Boate ele faz prostitutos e prostitutas se apaixonarem por suas peculiaridades sexuais. Ninguém consegue trair ou fugir do amor doentio que Moisés oferece.
ASSUNTO: Poder Sexual
PERSONAGENS: Moisés, Edu e Simony
RESUMO: Novela teatral que discute a liberdade e a disputa por espaço no planeta. A Dona do Sol ficou conhecida por esse nome depois de processar famílias que construíram um edifício em frente ao seu sol de fim de tarde. Considerada fria e egoísta, também é proibida de expôr suas opiniões em uma rádio pirata, seu segundo refúgio em desespero. Depois de muita luta, porém, a Dona decide abrir mão dos seus direitos para não atrapalhar os direitos dos outros. E a busca por espaço continua em outros cantos, em outros assuntos, em outros refúgios.
PERSONAGENS: Dona, Juiz, Advogados, Promotores, Policiais, Júri, Repórteres, Cigana, Famílias e Dona Carla
ASSUNTO: Liberdade e direito ao espaço
Sinopse: O texto conta a história de dois jovens que se encontram em um ritual alcoólico quase todos os dias, em um cemitério escuro, rodeados por túmulos e por uma criatura sobrenatural, sempre conversando sobre seus amores impossíveis. A confiança e a dúvida, e os diversos jeitos de amar, são colocados à prova na imatura discussão dos dois jovens prematuros. Um amor um tanto errado pode fazer os dois jovens pagarem um alto preço, principalmente aquele que não souber lidar com o coração. A desgraça de alguns é a felicidade de outros.
Tema/descrição: Amor juvenil/Morte
Personagens: Johny, Duda e Morte
RESUMO: Philo & Sophia são dois contempladores das dúvidas e do tédio. Discussões banais e conclusões precipitadas em metalinguagem na busca pela resposta fundamental do sentido da vida.
PERSONAGENS: Philo e Sophia
ASSUNTO: Filosofia
RESUMO: Discussão sobre liberdade de expressão em ficção surrealista. Até que ponto podemos zombar da fé do próximo? Até que ponto podemos nos ofender quando riem das nossas verdades? Qual o limite para a experimentação e expressão artística? Qual o limite da dor do ofendido?
PERSONAGENS: Três atores e três atrizes (ou seis artistas)
ASSUNTO: Religião/Sexo/Liberdade de Expressão


PEÇAS COM/SOBRE OS MISTÉRIOS DO UNIVERSO

RESUMO: A Morte decidiu se rebelar contra o sistema e parou de exercer a sua função de matar pela eternidade, até que o tempo enfim parasse. Todo um processo dramático e musicado de uma artista incompreendida na busca pelo sentido de sua existência.
ASSUNTO: Morte e Vida/Amor
PERSONAGENS: MORTE, PSICÓLOGO, ADVOGADO, PROMOTOR, DEUSES (CORO), VIDA, NARRADOR E CORO.

RESUMO: Antônia teve três experiências sobrenaturais na vida, ela viu três homens diferentes dentro do seu quarto. Quais perguntas e quais respostas essas aparições trazem pra realidade?
ASSUNTO: Medo/Trauma
Quase monólogo para uma atriz.
PERSONAGENS: ANTÔNIA, CARA COM CAPA, CARA COM CHAPÉU E CARA COM CELULAR. 

RESUMO: Invocação espiritual e teatral da mãe que morreu na luta contra o diabo.
ASSUNTO: Fé
Monólogo para um ator. 

RESUMO: Uma doutrinação perigosa de vagabundo.
ASSUNTO: Arte
PERSONAGENS: Mascarado

RESUMO: Malia pede um namorado pra estrela cadente e seu pedido se realiza de um jeito inesperado, mas só porque ela ainda não aprendeu como fazer pedidos direito.
ASSUNTO: AMOR
PERSONAGENS: MALIA, ITI e MÃE (VOZ)

RESUMO: Mari possui uma janela feita de uma madeira antiga já extinta do planeta Terra, uma madeira especial que é um portal para a imaginação. Mas as coisas que podem entrar dentro de casa só podem entrar se forem convidados, isso é regra. E muitos seres lá de fora querem fazer parte do show, ou então só roubar uma caneta.
ASSUNTO: Imaginação/Magia/Política
PERSONAGENS: MARI, DUENDE (BONECO), MENINO (VOZ), ASSALTANTE (BONECO), FANTASMA (BONECO), MULHER (VOZ) E ALIEN (BONECO)

RESUMO: Toninho conta as coisas que vê na janela do seu quarto, mas que só vê quando está do lado de fora da janela do quarto, dentro não. Seres celestiais e divinos surgem na história, alguns bons e alguns maus, e todos cheios de filosofias cotidianas.
ASSUNTO: Sonhos/Imaginação/Teatro
PERSONAGENS: TONINHO, FADA (BONECO), DUENDE (BONECO), ANJINHA (BONECO), DIABINHO (BONECO), BICHO-PAPÃO (BONECO) e MÃE (VOZ)

RESUMO: Histórias dos moradores (humanos e não humanos) de uma casa amarela através de uma janela especial e espacial.
ASSUNTO: Natureza
PERSONAGENS: LALÚ (MENINA), JOAQUIM (MENINO), ARARA (ARANHA), BEIJINHO (BEIJA-FLOR), JOÃOZINHO (JOANINHA), FORMIGUINHAS (VÁRIAS), MILTINHO (MILTON NASCIMENTO), BI (ABELHA), RATÃO (RATINHO), BATATA (BARATA), GILZINHO (GILBERTO GIL), PLANETAS E ESTRELAS (VÁRIOS), CHAPOLIN (CHAPOLIN COLORADO) e LUA (LUA FALANTE)

RESUMO: Grandes monstros surgiram de repente e dizimaram com a população. A memória gravada na Super-Máscara poderia ser a salvação, mas talvez a humanidade esteja fadada à extinção completa.
ASSUNTO: Heróis/Máscaras
PERSONAGENS: DIOGO, ISA (VOZ), GRANDÃO, NARRADOR e MOÇA (OPCIONAL)

RESUMO: Num futuro de um universo não muito distante, onde a verdade foi decidida por um único rei ditador, cinco jovens vão vasculhar o casarão onde vivem exilados os últimos professores/cientistas da cidade. Lara quer a verdade, mas Suzaninha quer desmascarar os doutrinadores feiticeiros. Eles vão descobrir que o certo e o errado, que o bem e o mal são relativos e podem ser pontos de vistas. E que tudo que existe nesse exato instante faz parte da grande jornada.
ASSUNTO: Bem e Mal/Decisões/Ciência/Espiritualidade
PERSONAGENS: BINHO, LARA, CLAUDINEI, SUZANINHA, BUIÚ, TIA SIL, TIA MÁ, CARA-DE-COISA-RUIM (SEU TOMÁS), MESTRE DIRETOR (MASCARADO/FANTASMA), CHICLETES (GATO; BONECO), NÁDIA (HOLOGRAFIA), SÓCRATES (HOLOGRAFIA), ENTIDADES (HOLOGRAFIAS), INTERROGADOR, APRESENTADOR (VOZ), MULHER (VOZ), POLÍTICO (VOZ), LINASGARNORRIANOS (HOLOGRAFIAS) e
DEUSA

RESUMO: Uma palestra motivacional sobre a calma e a paciência dos relacionamentos e na socialização.
ASSUNTO: Deus/Calma
PERSONAGENS: JOÃO DE JESUS

RESUMO: Um bebê vindo das estrelas é deixado na fazenda de Seu Zé, que recebe a missão de um ser celestial de criá-lo para a evolução do planeta, com a ajuda de suas três filhas. Mensageiros surgem com presentes, assim como os três reis magos surgiram na antiga história de Jesus. Seu Zé, cristão de criação, passa a acreditar que a criança seria o novo messias, e passa a dividir a criação da criança com as filhas e os mensageiros. Porém, diferenças de opiniões e ideologias na criação da criança, desde assuntos sobre alimentação vegetariana, política e religiosidade, faz com que tensões e terrores transforme a história num absurdo romance musical um tanto gospel e até mesmo com galinhas cantoras.
ASSUNTO: Deus/Existencialismo/Vegetarianismo/O mal e o bem
PERSONAGENS: VILMA, VALÉRIA, VÂNIA, ZÉ, SESSENTA E SEIS, ADOLFO, TEREZA, JUBILEU, GABRIEL (bebê/boneco), GABRIEL (criança), GABRIEL (pré-adolescente), RUI, BERNADETE (galinha/boneca), CAMILINHA (galinha/boneca), GALINHAS (bonecas) e PINTINHO (boneco)

RESUMO: Na festa de teatro em comemoração ao Dia de Todos os Dias, que acontece todos os dias, festejamos o dia de todas as coisas! Do réveillon ao Natal, de coelhinhos de Páscoa até o carnaval, dia das mamães, dias das vovós, papai e o papagaio! Todo dia é dia de comemoração! Mas e quando bate a bad?
ASSUNTO: Datas comemorativas/Felicidade
PERSONAGENS: DUDA, LAILA E CLÓVINHO.

RESUMO: Dra. Manoela reúne três pacientes que dizem ouvir vozes e possuem histórias de visões do sobrenatural. A busca pela verdade, sendo científica ou divina, é o principal foco da terapia, pela crise existencial de todos os personagens, inclusive da própria Dra. Manoela, inclusive do próprio autor da peça. Traumas e visões se chocam no drama pessoal de todos os indivíduos, e eles estão todos conectados, às vezes até sendo um indivíduo só, às vezes não.
ASSUNTO: Consciência/Deus
PERSONAGENS: DRA. MANOELA, DIRCE, LUCAS, SOFIA, GUTO E ESCRITOR.

RESUMO: Grande previsão real sobre eventos sobrenaturais que acontecerão no planeta Terra ainda esse ano. Prepara-te!
ASSUNTO: Vida extraterrestre/Deus/O Teatro pelo Teatro
PERSONAGENS: TONINHO e MIRNA

RESUMO: No Grande Jardim Mágico de Todas as Coisas é possível plantar qualquer coisa, desde árvores de bombons até mesmo árvores de carinho. Jaqueline é uma menina aventureira que vai descobrir sua missão na história, aprendendo também com o sonho dos outros e lidando com os próprios erros.
ASSUNTO: Existencialismo/Crítica social
PERSONAGENS: JAQUELINE, BOMBOM, BEIJIN, MR. ELEONÓRIO, PATRÍCIA, INSTAGRÃO, DINDIN, ARMANDO, NÁDIA, BÊBADO 1, BÊBADO 2, ÁRVORE MÚSICO 1, ÁRVORE MÚSICO 2 e ÁRVORE MÚSICO 3.

RESUMO: Espetáculo musical  com discussão de gênero para crianças. Toninho é um garoto comum, que enxerga as mulheres ao seu redor com desprezo ao mesmo tempo com certo interesse. Três garotas vindas de outro planeta formam a Banda das Garotas Alienígenas e trazem música e mensagem para mostrar pro Toninho como ele pode ajudar as mulheres do planeta Terra na luta pela liberdade e amor de todos.
ASSUNTO: Feminismo para meninos
PERSONAGENS: TONINHO, GALÁKTA, PLUTÁKTA E LUNÁKTA.

RESUMO: Um print de Bêne comentando com um amigo sobre como comeu Flor viraliza e todo mundo fica sabendo. Um caso de exposição sexual  pode destruir a vida de uma mulher, enquanto o homem sai ileso usufruindo da pinta de garanhão. Acreditar em carma divino ajuda a continuar a seguir a vida sem odiar os escrotos, mas se ainda há interesse em salvá-los, essa peça não consegue ajudar realmente com uma conclusão. Não é um manual, é uma reflexão no pensamento de se há tempo hábil pra salvar todos eles e se eles merecem a tentativa.
ASSUNTO: Machismo/Feminismo/Transexualidade/Poder
PERSONAGENS: FLOR, KEILA, BIANCA, TIAGO, BÊNE e ALANA.
RESUMO: Palestrante promete fazer experimentos sobrenaturais reais, desde contato com seres não terrestres à levitação.
ASSUNTO: Cosmos
PERSONAGENS: CAIO DOS SANTOS e MÃE (participação performática)
RESUMO: Guilherme recebe uma carta de sua mãe através de Vitória, uma médium líder de um centro espírita. Porém o ceticismo, em formato de benção, trás outras lições divinas para ambos.
ASSUNTO: Mediunidade
PERSONAGENS: GUILHERME e VITÓRIA.

RESUMO: Seres biológicos e elétricos buscam resposta para a morte pela hipnose. A experimentação do amor pós morte numa novela existencial.
ASSUNTO: Pós morte
PERSONAGENS: CONCEIÇO, LUCI, HD e DR. CARLO.

RESUMO: "Exatamente há cada trinta e três anos, um ser humano híbrido das estrelas, da criação e do criador, vindo de naves interestelares, gerado por inseminação artificial, costumamente em jovens virgens – vale ressaltar que essa regra tem sido extinta já há algum tempo - vem ao nosso mundo para ser mártir e trazer alguma influência híbrida ao mundo! Nesse meio tempo, com base no livre arbítrio que também lhe é concedido, tanto para o bem como para o mal, esse ser humano divino e genéticamente mais evoluído tem sido parte da história de cada geração específica, hora sendo mártir, hora sendo monstro."
ASSUNTO: Religião/Fé/Ciência/Preconceitos
PERSONAGENS: ELE
RESUMO: "Exatamente há cada trinta e três anos, um ser humano híbrido das estrelas, da criação e do criador, vindo de naves interestelares, gerado por inseminação artificial, costumamente em jovens virgens – vale ressaltar que essa regra tem sido extinta já há algum tempo - vem ao nosso mundo para ser mártir e trazer alguma influência híbrida ao mundo! Nesse meio tempo, com base no livre arbítrio que também lhe é concedido, tanto para o bem como para o mal, esse ser humano divino e genéticamente mais evoluído tem sido parte da história de cada geração específica, hora sendo mártir, hora sendo monstro."
ASSUNTO: Religião/Fé/Ciência/Preconceitos
PERSONAGENS: ELE 1 e ELE 2
RESUMO: Cinco amigos sofrem um acidente de carro. Na estrada, longe, abandonada, com fama de mal assombrada, os cinco jovens vivenciam uma experiência considerada sobrenatural, mas com possibilidade de explicações lógicas e científicas. Personagens paralelos surgem para ajudá-los na jornada pós acidente e para tentar descobrir as coisas do tempo e espaço de cada um.
TEMA: Morte/Dimensões
PERSONAGENS: Anabete, Jenifer, Olavo, Péricles, Zolinha, Rosivaldo (um senhor), Mula, Lelo, Camile (um bebê), Eva (mãe de Camile), (os mesmos atores dobram os personagens seguintes) Mãe de Péricles, Enfermeira, Médico, Faxineiro, Quatro pacientes de um hospital.
RESUMO: João Pedro tem um câncer terminal, com prazo de validade e crise existencial. Artisticamente ele não quer saber de um musical, mas seu universo ilustrado em seus melhores amigos querem tentar fingir que tudo está legal, que tudo ainda está normal. JP, como quer se apresentar, quer morrer, decidiu a vida abandonar, decidiu que chegou em seu final. Eutanásia é proibido (mas maconha também é, ué) e ele pede pros amigos, um abrigo, no perigo, dar um jeito, um migué; procurar a morte que vende em comprimido ilegal no Paraguai. Será que eles vão, será que ele vai? O que veio antes? Depois que o corpo cai, depois que a alma sai, pra onde a gente vai? O buraco negro tudo atrai, pra dentro dele tudo cai, isso já se sabe que é verdade, que é real, que é a realidade mais do que normal. O mistério imaginário e extra ordinário da morte é que é bastante e inexplicavelmente surreal. "A gente só se reconhece porque a gente tem essa voz pra dizer. Noz frutinha, ou nós eu e você?".
Com citações científicas livremente inspirado pelas leituras das obras de Stephen Hawking, essa novela musical super/mega dramática é uma quase autobiografia do autor que também luta contra um câncer. 
PERSONAGENS: Karina, Babi, Molusco, João Pedro, Jacira (enfermeira) e Miriam (mãe de JP).
ASSUNTO: Existencialismo/Ciência/Morte
RESUMO: Segredos de um menino e uma menina revelados em salvamento botânico de uma era de extinção. Remédios, feitiçarias, alquimia ou drogaria em criação da mutação artificial é ruim ou é bom?
ASSUNTO: Existencialismo da natureza
PERSONAGENS: Menina, Menino, Flor (boneco falante) e Planta (boneco mudo).
(Texto escrito para Jenyffer Lisboa Coelho, amiga e atriz)
RESUMO: Nesse monólogo experimental/político/musical, um Fantasma discute o existencialismo artístico com um peixe e com o público. A peça faz reflexão sobre qualidade e gosto cultural, dando ênfase na dúvida do que é considerado culto e o que é considerado fútil pela sociedade.
ASSUNTO: Arte/Morte
PERSONAGENS: Fantasma e o Peixe (pode ser um ator/atriz ou não)
RESUMO: "Uma coisa que teve noite de eu viajar no subconsciente mesmo, sabe! Coisas e sensações que se eu fosse só mais um pouquinho ignorante do que eu sou, eu poderia dizer que aquele deus com letra maiúscula falou diretamente comigo. Juro. Diretamente que eu digo é diretamente mesmo, com claras palavras ecoando no meu ouvido canceriano. Com o segredo revelado pude me libertar, pude sair do armário quântico de uma só vez. Mas há um problema. Nós estamos muito bem inseridos nesse sistema e muito bem confundidos pra conseguirmos chegar no nirvana e compreender qual é a realidade vigente todo o tempo. Existe mais do que uma realidade? O que é mais provável, uma cobra falante ou viagem no tempo? Eu aposto cinquenta por cento pra cada uma das possibilidades, porra! Então é difícil sair do sentimento físico, entende? Eu sei que é difícil. É difícil em cada segundo que você tenta colocar a teoria na prática. Tem hora que a crença de que nossos sonhos podem se realizar a qualquer momento se disfazem com uma gotinha mínima de tristeza química em nosso sangue biológico. A gente precisa começar a ver a biologia de uma outra forma."
ASSUNTO: Morte/Existencialismo/Física Quântica
PERSONAGENS: Vampiro e Enfermeira
RESUMO: O anjo Gabe e o demônio Lulu discutem a vida com Resquício, um depressivo prestes à cometer suicídio. A encheção de linguiça artística, os falsos filantrópicos, os preconceitos, premonições e conspirações sobrenaturais, tudo motivo mais que aceitável para não querer mais estar entre os mortais.
PERSONAGENS: Gabe, Lulu e Resquício
ASSUNTO: Dor existencial
RESUMO: Um jovem Youtuber desvendador de mistérios sobrenaturais decide convidar uma especialista para fazer um pacto com o diabo de verdade frente às câmeras. Ele não imaginava que o diabo pode existir em diversas formas que a gente nem imagina, até mesmo só com a própria loucura.
PERSONAGENS: Jovem, Moça e Demo
ASSUNTO: Sobrenatural
RESUMO: Philo & Sophia são dois contempladores das dúvidas e do tédio. Discussões banais e conclusões precipitadas em metalinguagem na busca pela resposta fundamental do sentido da vida.
PERSONAGENS: Philo e Sophia
ASSUNTO: Filosofia
RESUMO: "No ano 2019, cientistas encontraram a cura para o vírus do HIV. Milhares de vidas puderam limpar o sangue e a moral em uma campanha pública, patrocinada pela indústria farmacêutica, em seu primeiro ato de bondade humana da história. Para o desagrado e desespero dos conservadores, o sexo finalmente pode voltar a ser praticado sem medo, sem culpa, sem a preocupação de uma punição divina com a morte. (pausa) No ano 2021, outro vírus sexualmente transmissível foi descoberto."
PERSONAGENS: Lumberjack, Ator e Atriz.
ASSUNTO: HIV/Clube do carimbo
RESUMO: Abadon não era pra ter nascido; o aborto não foi bem sucedido. Sua mãe tem um segredo interestelar sobre sua descendência.
PERSONAGENS: Abadon, Mãe e Ragnarok/Oficial de Justiça
ASSUNTO: Possibilidades do universo
RESUMO: Discussão sobre liberdade de expressão em ficção surrealista. Até que ponto podemos zombar da fé do próximo? Até que ponto podemos nos ofender quando riem das nossas verdades? Qual o limite para a experimentação e expressão artística? Qual o limite da dor do ofendido?
PERSONAGENS: Três atores e três atrizes (ou seis artistas)
ASSUNTO: Religião/Sexo/Liberdade de Expressão
Sinopse: Musical que não é um auto-ajuda.
Tema/descrição: Um segredo
Personagens: Quatro atores.
Sinopse: Duas irmãs univitelinas. Uma delas se suicida bebendo mercúrio. Uma passagem pela loucura de duas pessoas que acreditavam ser uma só.
Tema/descrição: Existencialismo
Personagens: Carina, Caroline e Ruben (pode ser interpretado com uma única atriz)
Sinopse: Um acaso planejado. Um sequestro com uma intenção grandiosa e épica. Estudos sobre o macro e o micro do universo deu super poderes a algumas pessoas; uma organização secreta que desejava há séculos encontrar um novo messias para salvar o povo com a poderosa palavra esperança. Eles encontraram um não-voluntário.
Tema/descrição: Física/Sexo/Religião
Personagens: Rodolfo, Ramiro e Alana
Sinopse: Algo cai do céu e faz um buraco entre três personagens. A vida dessas três personagens é apresentada em situações nada aristotélicas. Três histórias que se cruzam em violência, sexo, internet e intelectualismo. Uma crítica a estética e ao cult. Dois finais.
Tema/descrição: Homofobia/Sexo/Teatro
Personagens: Alípio, Tíbio e Lúcio
RESUMO: Continuação do espetáculo autobiográfico com o fim da esperança. A crença na positividade e de que os sonhos se realizam são confirmadas, tudo pode acontecer, mas quando realizadas não são tão emocionantes assim. Será que a morte é a melhor (e única) saída para meus problemas? "Não! Para! Oh, meu deus. Eu nunca fui tão pessimista. Quem me conhece sabe que eu até li e divulguei o tal do Segredo. Eu não sou assim. Eu não sou esse depressivo. Eu não tenho coragem de me matar e a discussão talvez nem seja essa. Não é o medo. É a coragem. E ter coragem nunca é o suficiente. Eu vivo na base de uma carência completamente egoísta. Talvez essa cena dramática toda é só pra alguém poder sentir pena. Pra chamar atenção. Como todo mundo que faz cagada na vida pensou um dia."
ASSUNTO: Existencialismo
PERSONAGENS: Robson e Ela.