ATÉ ACONTECER COM VOCÊ

PERSONAGENS
Clarissa
Andreia
Leandro

PRÓLOGO

(Enquanto a plateia se acomoda, Leandro está amordaçado em uma cadeira tentando gritar e se soltar)


CENA 1

(Luz; Leandro consegue tirar a mordaça)

LEANDRO
(grita) Eu não sou um estuprador! Eu nunca estuprei ninguém! Eu não tenho tendência a ser um estuprador. Eu nunca levantei a mão pra uma mulher! Eu nunca estuprei ninguém, porra! Alguém me desamarra! (ele tenta; cansado) Eu já falei que isso é exagero. A gente não pode generalizar as coisas, sabe? Pra mim, é exagero. Essa é a minha opinião. Fica difícil o diálogo quando só um lado quer falar. Isso pra mim é vitimismo barato. A gente não pode estragar todo o saco de batata porque uma ou duas batatas são podres, entendeu? Vocês querem mais o quê? Vocês querem que eu prove que eu nunca estuprei ninguém como? Quer fazer teste de DNA no sebo do meu pau pra saber se eu já estuprei? Eu nunca estuprei ninguém! Isso que vocês estão fazendo comigo não é arte! O que é isso? É performance? Puta merda! Isso daqui não é arte! Vocês querem serem ouvidas, mas as nossas crianças são obrigadas a ficar vendo peito de fora em praça pública? Que tipo de manifestação é essa, caramba? São crianças! Tetas nas caras das crianças? Depois querem ser respeitadas? Com esse shorts curto? Com a buceta de fora? Tem que falar! Eu sou do tipo que tem que falar! Ao invés de ficar abrindo a perna pra todo mundo, abre um livro, porra! Vai estudar um pouco! Eu-nunca-estuprei-ninguém! Depois que sai desse jeito mostrando os peitos não quer que os caras olhem? Se chama de gostosa não gosta, se chama de feia não gosta. Tem como agradar? Isso aí é vitimismo barato de gente fraca que não tem orgulho próprio. Pra mim, é falta de rola sim! Eu nunca estuprei ninguém! (pausa) Eu tava bêbado.

CLARISSA
(recita) Você disse que melhora, que com o tempo vai passar
Diz que é pra eu me sentir forte
Que eu tenho sorte, que vai melhorar
Mas me diz o que você viu? O que você viu?
O que diabo você sentiu? O que você viu?

ANDREIA
Você me fala em exagero
Que é frescura, que vai passar
Que quando cai você levanta
Que é tão fácil pra melhorar
Mas como é que eu posso andar com você me olhando?
Você está no meu caminho
Me perseguindo

CLARISSA
Até ser com você.

ANDREIA
Até ser com você.

LEANDRO
(grita) Nazistas! Sexistas! Feministas! Putas, vadias, vagabundas! Quando eu me soltar...!

CLARISSA
O que vai fazer?

ANDREIA
Vai me pagar um drink, bonitinho? Acenda um cigarro pra mim, Clarissa.

(Clarissa acende)

CLARISSA
Como você conseguiu tirar a mordaça, fofo? Deixe eu arrumar aqui.

LEANDRO
Me larga! Sua biscate! Eu vou te matar! (Clarissa amordaça ele novamente)

CLARISSA
Chiu! Quietinho. Seja um bom menino.

ANDREIA
Tá fazendo uma noite maravilhosa lá fora. Você viu a lua hoje, Cla?

CLARISSA
Eu tirei até uma foto. Olha. (ela mostra) Não fica tão bonita na câmera.

ANDREIA
Não.

CLARISSA
Você pediu pizza de quê?

ANDREIA
Meia quatro queijos e meia rúcula com tomate seco.

CLARISSA
Tomara que não demore que eu tô cagada de fome. Eu vou pegar os vinhos. Ai, eu tô tão ansiosa. (ela sai)

ANDREIA
Vou fazer uma citação romântica porque eu quero e eu sou empoderada e ninguém tem cu pra falar um A pra mim hoje. "A vingança é um prato que se come bem devagar, degustando um bom vinho, um bom cigarro, e bons materiais de tortura". (Andreia abre uma maleta com diversos materiais de tortura) "Pacifismo é o meu cacete." Eu não tenho cacete, eu não quero um cacete, foda-se o cacete, então: "Pacifismo é a minha buceta".

CLARISSA
(entra) Vinho!

ANDREIA
Graças às deusas! Adoro.

CLARISSA
(para a plateia) Gente, com a vossa permissão - porque somos adeptas de que uma introdução deva ser feita com consenso de ambas as partes, com consentimento - deixe me introduzir eu e minha colega Andreia. Eu sou a Clarissa e ela é a Andreia. Nós somos personagens dessa novelinha de vingança que a gente vai apresentar. Como atrizes, nosso verdadeiro nome é ________ e ________, respectivamente. E ele é o Leandro, nosso personagem masculino, interpretado pelo _________. Na vida real ele não é tão machão assim, o machão é o personagem, e eu falo isso pensando que isso é uma coisa ótima, isso é maravilhoso, graças a deus que ele é um cara decente na vida real. De qualquer forma ele vai ficar com a mordaça porque eu não sou obrigada a tirar o meu protagonismo pra ego de ator nenhum falar mais alto.

ANDREIA
Vocês podem acreditar nele, tá, gente? Ele diz a verdade quando não estuprou ninguém. O personagem. O Leandro. Ele falou que não estuprou e não estuprou mesmo, eu acho. Pelo menos ele não me estuprou.

CLARISSA
E nem eu. Ele também não me estuprou. Não somos vítimas dele. Não de estupro.

ANDREIA
Até acontecer com você, você vai me falar que eu sou uma puta frescurenta.

CLARISSA
Até acontecer com você, eu sei que soa apelativo, mas é o que é.

ANDREIA
"Você é a minha namorada e namorada tem a obrigação de transar."

CLARISSA
"O metrô tá lotado, quer luxo vai de taxi."

ANDREIA
"Quer que eu chame de feia ao invés de gostosa?"

CLARISSA
"Guarda essa teta! Que falta de respeito!"

ANDRÉIA
"Tava pedindo pra morrer num beco com sêmen recém gozado escorrendo misturado com sangue, né? Tava pedindo!"

CLARISSA
Aí ele fala:

ANDREIA
"Quer ir lá na minha casa praticar um sexo animal, sensual e violento, agora, não amanhã, nesse instante, de primeiro encontro?"

CLARISSA
"Não, não quero, obrigada."

ANDREIA
"Puta!"

CLARISSA
Aí se ela aceita:

ANDREIA
"Quer ir lá na minha casa praticar um sexo animal, sensual e violento, agora, não amanhã, nesse instante, de primeiro encontro, assim, bem pertinho de mim?"

ANDREIA
"Ai, tá bom, eu quero. Eu quero sim."

ANDREIA
"Puta!"

CLARISSA
"Eu nunca estuprei ninguém."

ANDREIA
"Eu nunca estuprei ninguém."

CLARISSA
"Eu-nunca-estuprei-ninguém."

ANDREIA
"Eu-nunca-estuprei-ninguém."

CLARISSA e ANDREIA
"Eu sou tão sensível e romântico. Tão lindo, tão fofo, e tão incompreendido. Feministas do mal."

(Leandro cospe a mordaça)

LEANDRO
Elas vão cortar meu pau! Elas estão planejando mostrar uma cena de castração nesse palco! Feminazistas! Isso sim é sexismo! Vocês estão sendo sexistas!

ANDREIA
Ele nem sabe o que é isso.

LEANDRO
Eu estou sendo oprimido porque eu quase não tenho fala nessa porra! Elas querem calar os homens, pessoal! Elas vão calar os homens! Lésbicas! Querem dominar o mundo! Cuidado!

(Clarissa amordaça Leandro com mais força)

CLARISSA
Cale a boquinha, bonitinho. Dá tanto dó quando um cara é bonitinho e só fala merda, não dá? Dá vontade de chegar na mãe e no pai dele e falar: gente, vocês tem um gene ótimo, mas o que vocês fizeram? O que vocês pensam da vida? Porque o filho de vocês, ó, é um merda.

ANDREIA
Um otário.

LEANDRO
(cospe de novo) Eu tenho o direito de ser otário. E ser otário é uma questão de ponto de vista.

(Andreia ameaça Leandro com um objeto pontiagudo quase furando seu olho)

LEANDRO
Ah! Tá bom. Tá bom. Tá bom.

ANDREIA
Num tá bom. Se tivesse bom a gente não tava aqui.

CLARISSA
Andreia. Calma.

(silêncio; Andreia desiste da ameaça)

LEANDRO
Sua violenta. Mulherada violenta.

ANDREIA
Eu vou falar bem devagar pra você entender: "Eu nunca fui não-violenta. Nunca." Quem falou isso foi a cantora Nina Simone, uma fodona. "Eu-não-sou-Jesus-Cristo!" Isso quem falou foi eu mesma, anotem. Ouviu?

LEANDRO
Ouvi.

ANDREIA
Amordaça ele direito, Clarissa. Dá aqui que eu amordaço. Segura ele direito. (ela amordaça) Homem não fala nessa porra. Vai ficar quietinho, de bico fechado!

CLARISSA
Tá pensando o que, hein? Hã? Seu bosta.

ANDREIA
É muito engraçado. Supostamente muita gente já acredite que estamos nivelados. Que na balança da igualdade já alcançamos o suficiente pra aquietar o facho. "Tá querendo mais o que?"

CLARISSA
Bullshit! Eu adoro xingar em inglês.

ANDREIA
Eu não nasci do mesmo jeito? A gente, tudo, não nasce igual? Pelado? Melado? Eu não respiro, eu não como, eu não cago? Igual? Eu não consigo entender o por quê. É por causa dos duzentos gramas de músculo a mais? É por causa do pinto? É por causa disso que a gente ficou com essa impressão? Eu não consigo entender o por quê. Por que um dia a gente se deixou levar, mulherada?

CLARISSA
Eu não consigo entender o por quê. Eu tô sofrendo. Eu juro que eu não finjo sofrimento mesmo isso sendo teatro! Eu sou uma pessoa super sensível.

(Enquanto Andreia canta, Clarissa se despe e dança)

ANDREIA
(lento) Não tenho casa, não tô calçada
Não tenho dinheiro, desonrada 
E roupa curta, quase não tenho
Não tenho shampoo
Não tenho amor
não tenho fé

Sou sem cultura, não tenho mãe
Não tenho pai, não tenho irmãs
Não tenho filhos que me esperam
Eu não respiro
Não tenho amor
Não sou mulher

Sem deputadas, ou faculdade
E nem amigos, escolaridade
Nem bebo água, não faço nada
Sem profissão, civilidade
E nem...

Eu não respiro
Não tenho amor
Comer comida
Crer no Senhor
Não bebo vinho
Recebo menos
Não tenho fé
Crer no Senhor
Não tenho amor

Então pra quê eu sou?
Eu não vim atoa, eu sei
Oh, sim
Pra quê eu estou?
Quem é você pra dizer?

(a música anima; Clarissa se empodera)

É meu cabelo, meu nariz
Minha cabeça, eu tô aqui
Minha cara, minha teta
Animal
Hashtag
O corpo é meu

Eu tenho braço, tenho mão
Tenho bunda e dois dedão
Tenho pé, pensamento
Uma ser viva
Que respira

Ser que respira
Ser que respira


Se o corpo é meu, eu falo eu,
A regra a minha pra puta que o pariu

(Clarissa enfia uma faca na barriga de Leandro)

(black-out)


CENA 2

LEANDRO
(grito de guerra)
Quando fala "não" quer dizer "sim"!
E se fala "sim" quer dizer "anal"!
Quando fala "não" quer dizer "sim"!
E se fala "sim" quer dizer "anal"!
Quando fala "não" quer dizer "sim"!
E se fala "sim" quer dizer "anal"!

(a luz se acende; Leandro continua gritando confiante, ainda amarrado; ele se cala quando Clarissa entra limpando a faca)

CLARISSA
Ora, ora.

LEANDRO
Eu tenho o direito civil de manifestação.

CLARISSA
Eu sonhei que eu enfiava uma faca na sua barriga. Na região do seu estômago. Aí quando eu tirei a faca caiu um pouco de mistura de comida que você tinha comido no almoço. Misturado com sangue. Será que eu sou muito cruel em sonhar com uma vingança tão dramática e tão de novela assim? Não é nada pessoal, Le.

LEANDRO
Só se você transformar o sonho em vida real. É covardia esfaquear um homem amarrado. Me dá a chance de me defender, pelo menos. Eu tô em desvantagem!

CLARISSA
Olha o seu tamanho, cara. Para de choramingar. Parece até uma... menininha. Fraca. Sensível. Que chora. Pelos cantos. Que não sabe usar uma arma. Que não tem coragem de enfiar uma faca num coelhinho fofinho de pelúcia. (ela rasga um coelho de pelúcia) Que assiste só comédias românticas. Que tem duzentos gramas a menos de músculo.Virgem. De igreja. De boa família. Nunca nem sentiu um pau duro, nem por cima da roupa. Nem sentiu, porque não sabia como sentir, quando um tarado se esfregou no buzão na bunda dela. Inocente. Que não grita. Que apanha quieta. Que não responde. Que não amamenta o filhote pra não chocar os homens de boa moral! (enfia a faca na cadeira, entre as pernas de Leandro)

LEANDRO
Por favor! Pelo amor de deus!

CLARISSA
(boazinha) Você acha que eu tô sendo muito cruel? É exagero, é? A gente não precisa colocar todos os homens no mesmo saco de batata? A gente tá tentando lutar contra a violência usando de violência, é? Não vai dar em nada, vai? É isso? Você acha exagero, Le? Acha? Você é diferente? Você é? Você é bonzinho, é? É romântico? É diferente dos outros homens?

LEANDRO
Eu sou de esquerda, por favor, eu juro! Eu também sou feminista!

CLARISSA
(ri) Ah! Você é de esquerda! É esquerdista. Feminista? Universitário, aposto. De humanas? Vai nas manifestação de apoio às mina, não vai? Não vai?

LEANDRO
Vou, vou! Eu sempre vou! Eu tenho uma camiseta com a hashtag "meu corpo, minhas regras".

CLARISSA
"Quando fala "não" quer dizer "sim"!
E se fala "sim" quer dizer "anal"!"
Isso significa o que, pra você? O que você pensa quando fala isso?

LEANDRO
É uma brincadeira. Entre os homens é só uma brincadeira. Eu não conheço nenhum cara que tenha realmente estuprado alguém. Pelo amor de deus! É brincadeira de faculdade, ninguém leva à sério. Vocês também falam do tamanho do nosso pau e ninguém reclama!

CLARISSA
Reclamou agora! Eu sou uma pessoa muito séria e eu levo tudo na maior seriedade, Le-le. Eu acho que quando a gente entra na faculdade a gente deixa a infância pra trás, não é assim? Não é assim que funciona? O que aconteceu?

LEANDRO
Eu trato as mina bem. Eu juro! Eu nunca destratei nenhuma mina. Eu sempre pago tudo.

CLARISSA
Mas na internet paga uma de machão, o fodão comedor, o pica das galáxia!

LEANDRO
Quem disse isso? É brincadeira, é tudo brincadeira. Vocês precisam levar na esportiva.

CLARISSA
(enfia a faca na cadeira de novo) Não me diga o que eu preciso fazer! Eu não preciso de nada do que você acha.

LEANDRO
Tá bom, tá bom! Desculpa! Você não é assim, Clarissa. A gente se dá super bem. A Andreia que mexeu com a sua cabeça. Isso daí não é feminismo.

CLARISSA
Quem é você pra me dizer o que é feminismo e o que não é, garoto? Mas você tem razão. Não é feminismo mesmo. É femismo. Você abaixo. Eu acima. Você fraco. Eu com a faca. A diferença que você quer tentar me explicar é essa. Isso daqui realmente não é feminismo. Se eu enfiar essa faca no seu pescoço agora não é por uma luta feminista. Seria por que eu tenho nojo de garotão que paga de fodão, e que ainda deixa freada na cueca pra mamãe lavar? Seria. O contrário do machismo, meu queridinho, não é o feminismo. O contrário do machismo é isso que a gente tá fazendo com você. Femismo. Estamos balanceando pra tudo ficar um pouco mais justo, já que molecões como você adoram desmerecer a nossa luta, então eu simplesmente me sinto o dobro de melhor do que você sim. E enquanto irmãs estiverem morrendo nas mãos de seus namorados e maridos porque querem terminar um relacionamento, eu estarei aqui sim senhor! Não é preciso ter estuprado ninguém pra ter ajudado estupradores se sentirem no direito de estuprar, Le-le. Basta um apoio. Uma piadinha. Uma única piadinha. Já é o suficiente.

(uma campainha)

CLARISSA
Ah! A pizza! Você tá com fome? Andreia!

LEANDRO
Tô morrendo de fome.

CLARISSA
Eu sou ruim, mas eu não sou tão ruim assim. Eu deixo você comer um pedaço. (ela pega a pizza) Se não como é que a gente iria fazer você comer sua própria bosta se não tiver bosta pra comer, né?

LEANDRO
O que?

CLARISSA
Brincadeira, brincadeira. A gente não vai fazer isso, não. Andreia!

(Andreia entra)

ANDREIA
Eu tô jorrando sangue, cara. Tive que colocar dois absorventes.

CLARISSA
Nossa, quanto molho de tomate. Tá transbordando por de baixo do recheio.

ANDREIA
Você tem remédio pra dor, Cla?

CLARISSA
Tem na minha bolsa.

ANDREIA
Por que ele tá sem mordaça?

CLARISSA
Eu tava conversando com ele. Eu tava sendo moralista com ele.

ANDREIA
Quer apostar que você vai deixar ele te convencer, Clarissa?

CLARISSA
Imagina, eu tô superada. Aquilo não vai acontecer de novo, Dé. Confia em mim. Foi uma fraqueza momentânea porque ele era cheiroso.

ANDREIA
Olha lá, hein! As pessoas pagaram pra ver um show! Não vem com novelinha de final feliz pra cima de mim, ouviu bem?

CLARISSA
A outra vez foi o fim? Foi o fim aquela última vez? Não foi o fim aquela última vez. Foi um meio. Eu tive uma recaída e não vai acontecer de novo. O Leandro é uma pessoa que eu não suporto, ele é até bonitinho, mas eu tenho a total convicção de que eu tenho muito nojo dele e do bafo dele, do cheiro dele, e da pessoa que ele é. Ele tem penteia o cabelo. Não é nada pessoal, querido, é que você tem pau.

ANDREIA
Clarissa. Eu te conheço, garota. Olha lá, hein.

CLARISSA
Eu sou lésbica agora.

ANDREIA
Clarissa, você não é lésbica.

CLARISSA
Sou sim, eu sou lésbica sim.

ANDREIA
Não, Clarissa, você não é lésbica.

CLARISSA
Sou sim, se você quiser eu beijo você agora. Se você quiser, eu beijo.

ANDREIA
Clarissa, você não é lésbica.

CLARISSA
Vai cagar, Andreia! Você não é eu. Eu sou eu! Fica cagando regra na vida dos outros. Eu, hein!

ANDREIA
Eu sei que você não é lésbica, mas tá bom.

CLARISSA
Só por que eu não quis transar com você naquele dia, Andreia, não quer dizer que eu não seja lésbica, tá bom? A gente não fica vinte e quatro horas juntas pra você saber tudo o que eu faço!

ANDREIA
Clarissa, você pode até ficar com meninas, e ser a maior chupadora de buceta da face da Terra, mas eu sei e todo mundo sabe que o que você gosta mesmo é de pau.

CLARISSA
E daí se for? O que você tem a ver com isso?

ANDREIA
Eu não tenho nada a ver com isso.

CLARISSA
Ah, não parece.

ANDREIA
Eu só tô dizendo que porque você gosta de pau você não é lésbica, no máximo bi, mas não lésbica.

CLARISSA
Bi é meio lésbica.

ANDREIA
Não, bi é bi, lésbica é lésbica.

CLARISSA
Você já transou com o Juninho, você também é hétero, então.

ANDREIA
O Juninho me forçou a dar a bunda pra ele!

CLARISSA
Forçou nada!

ANDREIA
Praticamente forçou. Eu tinha doze, ele tinha dezessete.

(silêncio)

CLARISSA
Não é pedofilia, mas...

ANDREIA
Exatamente. Eu achava que ele era o amor da minha vida.

LEANDRO
Uma menina de doze anos já sabe bem o que faz. Eu conheci umas bem safadinhas, viu.

(silêncio; Clarissa e Andreia estão chocadas com o comentário)

LEANDRO
Desculpe, eu só quis participar. Foi involuntário. Mas tem menina de doze anos safada mesmo! Se você não quisesse dar pra ele era só você ter falado!

ANDREIA
Eu falei. Eu falei que eu não queria.

LEANDRO
E ele te amarrou?

ANDREIA
Não, ele não me amarrou.

LEANDRO
Então ele não forçou.

ANDREIA
Eu já falei que eu não queria. Foi numa garagem que fedia graxa. Eu perdi a minha virgindade em pé.

CLARISSA
Você não gritou?

ANDREIA
Ele meio que me convenceu que... eu tinha que fazer aquilo pra ele porque ele gostava de mim e porque ele não iria aguentar por muito tempo e...

LEANDRO
Então foi consensual.

ANDREIA
Foi consensual, mas foi sob pressão! Eu tinha doze anos de idade, caralho! Eu assistia A Bela e a Fera duas vezes por semana ainda!

LEANDRO
Desculpe, mas eu não acho que se classifique isso como estupro. Foi uma experiência sexual ruim, mas não foi um estupro.

ANDREIA
Você não tem que achar nada, fui eu quem fui a violada. Fui eu quem me senti abusada, gozada. Saí com com o cu escorrendo porra dele. E tive zero de prazer. É isso que você queria ouvir, não é? Cu. Eu acho engraçadíssimo essa moral dos homens. Eles acham feio uma garota que fala palavrão. Eles querem uma puta pra satisfazer o sexo, e uma santa pra satisfazer o ego. Eu digo se eu fui estuprada ou não. Você estava lá? Você viu? Foi você quem sentiu? Então cala a boca.

LEANDRO
Eu só tava dando a minha opinião. Eu conheci um cara falou que uma mina armou pra cima dele. Ele não queria comer ela aí ela inventou que ele estuprou ela.

(silêncio)

ANDREIA
O que isso tem a ver?

LEANDRO
Não, só tô falando. Só tô falando, só.

ANDREIA
E isso tira a gravidade de uma garota de doze anos que deu o cu pra um namorado de dezessete anos por pressão sim, e que ainda foi abandonada duas semanas depois, trocada por outra coitada que com certeza também teve que fazer os mesmos gostos do garotão, iludidas, num mundo de fantasias de príncipes encantados que querem viver o felizes para sempre, porque um cara tá dizendo que conheceu um cara que disse que uma mina armou pra cima dele? Você consegue entender que eu peguei tanto nojo desse acontecimento que isso me traumatizou pro resto da vida? Que essa é minha história de vida, que boa parte dela gira em torno desse acontecimento traumático?

LEANDRO
Eu tô achando isso tudo muito dramático e me parece que ao invés de você seguir em frente com a sua vida você preferiu ficar se vitimando, entende? Fica chorando no leite derramado. O mundo agora tem culpa de você ter sido trouxa de ter caído na lábia do cara? Você já fez terapia?

ANDREIA
Eu já fiz e faço terapia, desde que aconteceu e especialmente porque aquilo aconteceu! Pare de tentar me fazer parecer que eu sou a louca dessa história! Você tá de sacanagem comigo, cara.

CLARISSA
Enfia logo uma faca no peito dele, Andreia. Tá todo mundo torcendo pra isso acontecer.

LEANDRO
Desculpa, eu só tava dando a minha opinião.

CLARISSA
Enfia, Andreia.

(silêncio)

ANDREIA
Vamo comer. Dá um pedaço pra mim de escarola.

CLARISSA
Pode dar um pedaço pra ele?

ANDREIA
De jeito nenhum! Você é retardada?

(elas comem em silêncio, enquanto a luz cai em resistência)

(black-out)


CENA 3

(Leandro está sozinho se penteando e se arrumando em frente a um espelho)

LEANDRO
Eu tava bêbado. Aconteceu só uma vez. Eu achei que ela queria ficar comigo. E ela queria mesmo, mas acho que ela queria ficar só nos beijos. (pausa) Aquilo sim não foi consensual. Eu bati a cabeça dela contra a parede do banheiro e daí ela se debateu menos. Ficou mais fácil de segurar. Eu era moleque, eu tinha uns dezenove anos, tinha acabado de entrar na faculdade. Eu lembro de ter ficado uma marquinha de sangue no azulejo, por conta da pancada. Falavam que ela dava fácil, por isso que eu quis ficar com ela. Nem bonita ela era. Aí acho que ela não queria, eu fiquei meio bravo. Eu tava bêbado. Todo cara sai de casa pra ficar bêbado pra ver se transa. Acho que é do instinto, entende? Enquanto a gente tava se beijando ela parecia que tava gostando. Depois ficou cheio de frescura pra cima de mim. Porra! Quem que aguenta? (pausa; depois de arrumado, ele se senta e se amarra novamente na cadeira) Ela denunciou pro reitor. (silêncio) Não deu em nada.

ANDREIA
Sentimentos são
Fáceis de mudar
Mesmo entre quem
Não vê que alguém
Pode ser seu par

Basta um olhar
Que o outro não espera
Para assustar
E até perturbar
Mesmo a Bela e a Fera

CLARISSA
Sentimento assim
Sempre é uma surpresa
Quando ele vem
Nada o detêm
É uma chama acesa

LEANDRO
Sentimentos vem
Para nos trazer
Novas sensações
Doces emoções
E um novo prazer

E numa estação
Como a primavera
Sentimentos são
Como uma canção
Para a Bela e a Fera

TODOS
Sentimentos são
Como uma canção
Para a Bela e a Fera

ANDREIA
"Você estava bêbada? Você bebeu naquele dia?"

CLARISSA
"Que tipo de vestido você estava usando quando aconteceu?"

ANDREIA
"Mas então você quis entrar com ele no banheiro, não quis?"

CLARISSA
"Você tem como provar que ele te drogou, que ele colocou alguma coisa na bebida?"

ANDREIA
"Eu não acho que se classifique isso como estupro. Foi uma experiência sexual ruim, mas não foi um estupro."

CLARISSA
"Parece que ele não quis comer ela aí ela inventou que ele estuprou ela."

ANDREIA
"Você tem noção do que vai acontecer se você fizer a denúncia na polícia? Virão repórteres, a mídia. Você tem certeza que você quer se expor?"

CLARISSA
"Você tem certeza que está disposta a destruir com a vida de uma família inteira, por causa de um mal entendido? Você tem noção do que vai acontecer com esse garoto se você denunciar?"

(silêncio)

LEANDRO
(baixo) "Quando fala "não" quer dizer "sim"!
E se fala "sim" quer dizer "anal"!"
"Quando fala "não" quer dizer "sim"!
E se fala "sim" quer dizer "anal"!"

CLARISSA e ANDREIA
Até acontecer com você sua filha de uma puta.

ANDREIA
É exagero sim. Eu sei que eu tô exagerando! Eu tô exagerando pra caralho com essa merda aqui! E sabe por que? Porque essa porra toda é exagerada. A vida sempre foi exagerada e sempre foi violenta.  Eu sempre fui e nunca vou deixar de ser violenta! Porque é o que dá pra ser.

CLARISSA
Com rodinhas de ciranda e freehugs a gente não consegue a atenção do machão que se acha superior comedor garanhão. Tem que amarrar ele na faca. Tem que tratar do mesmo jeito que é tratada. Fuck off, mother fucker! Você vai dar murro na minha cara, vai me comer a força, vai se esfregar no buzão? Agora é a minha vez!

LEANDRO
Não dá pra generalizar! Eu já me arrependi! Eu era um moleque! Tenham misericórdia! Sentimentos são fáceis de mudar!

(as duas dançam com os instrumentos ameaçando Leandro)

CLARISSA e ANDREIA
É meu cabelo, meu nariz
Minha cabeça, eu tô aqui
Minha cara, minha teta
Animal
Hashtag
O corpo é meu

Eu tenho braço, tenho mão
Tenho bunda e dois dedão
Tenho pé, pensamento
Uma ser viva
Que respira

Ser que respira
Ser que respira


Se o corpo é meu, eu falo eu,
A regra a minha pra puta que o pariu

ANDREIA
Acenda um cigarro pra mim, Cla.

CLARISSA
Vixi, acabou o cigarro.

ANDREIA
O que? Acabou? Não pode! Pelo amor de deus, eu pedi pra você comprar dois maços, Clarissa. Puta que o pariu, viu.

CLARISSA
Eu pensei que fosse dois vinhos e um maço. Entendi o contrário. Quer que eu vá comprar?

ANDREIA
Eu vou! Pode deixar que eu vou. Caralho, viu. Buceta. Sem cigarro não dá, querido. Eu gosto de arrancar dedo por dedo, e sem cigarro não vai de jeito nenhum.

LEANDRO
Pelo amor de deus! Vocês vão levar isso adiante?

ANDREIA
Mas é lógico, meu bem. Você acha que a gente chegou até aqui pra quê? Porque a gente gosta de teatro?

LEANDRO
Vamo fazer um musical? Pelo amor de deus!

ANDREIA
Nada de final de feliz. Ninguém sai de casa pra ver final feliz em teatro mais, querido. Tem que ter gente pelada e pós-modernismo pra segurar o público. Vai ter que mostrar o pintinho. E depois eu vou guardar o seu saco dentro desse pote de maionese.

LEANDRO
Por favor! Por favor!

ANDREIA
Já volto.

CLARISSA
Tá bom.

(Andreia sai)

CLARISSA
Traz um sorvete pra mim!

ANDREIA
(off) Vai se fuder!

(silêncio)

CLARISSA
Bom, estamos nós dois de novo.

LEANDRO
Pois é.

(silêncio)

CLARISSA
Você canta super bem, sabia?

LEANDRO
Valeu. Você também.

CLARISSA
Valeu.

(silêncio)

CLARISSA
O que aconteceu que você ficou mais bonitinho? Você se arrumou, foi?

LEANDRO
Foi. Foi num bife que eu tinha. Aí eu me arrumei pra balada.

CLARISSA
Olha só, passou até perfume!

LEANDRO
A gente tem que se cuidar, né?

CLARISSA
Penteou o cabelo. Ficou apresentável assim. Até parece bom moço.

LEANDRO
Pareço, é? Mas elas gostam mesmo é dos cafajestes.

(os dois riem da piada)

CLARISSA
É verdade, tem algumas que gostam mesmo. Eu não entendo.

LEANDRO
Eu até entendo. Acho que é por causa da pegada.

CLARISSA
Que pegada?

LEANDRO
Pegada. Um jeito de pegar.

CLARISSA
Você é louco.

LEANDRO
Sou, é? Eu sempre achei você a maior gata, sabia?

CLARISSA
Jura?

LEANDRO
Juro.

CLARISSA
Que nada.

LEANDRO
Tô te falando. Tô falando sério. Quanto mais feminista, mais tesão me dá.

CLARISSA
Sério? Jura?

LEANDRO
Eu adoro uma mulher empoderada. Que gosta de dominar.

CLARISSA
Você gosta de feminista, é?

LEANDRO
Eu adoro uma feminista pós-moderna.

CLARISSA
E o que você gosta em uma feminista? O que você gosta de fazer com uma feminista pós-moderna?

LEANDRO
Ah, várias coisas.

CLARISSA
Como o que?

LEANDRO
Conversar.

CLARISSA
Sobre o que?

LEANDRO
Sobre luta de classes, minorias.

CLARISSA
Que mais?

LEANDRO
Ir no cinema.

CLARISSA
Que tipo de filme?

LEANDRO
Ah, eu gosto bastante do Woody Allen.

CLARISSA
Nossa! Eu adoro o Woody Allen!

LEANDRO
Jura? Não acredito!

CLARISSA
Juro! Adoro muito os filmes dele! Você assistiu "Meia noite em Paris"?

LEANDRO
Nossa, eu amo.

CLARISSA
Meu preferido.

LEANDRO
O meu também.

CLARISSA
Mentira! Não é!

LEANDRO
Juro que é. Eu gosto mesmo. Eu adoro.

CLARISSA
Nossa!

LEANDRO
Que legal.

CLARISSA
Que mais que você gosta em uma feminista? O que você gosta de fazer com uma feminista?

LEANDRO
Ah, gosto de namorar também.

CLARISSA
Namorar, é? Seu cafajeste!

LEANDRO
Ah, quem não gosta? Se você pudesse me soltar a gente podia ir no cinema, namorar...

CLARISSA
A Andreia não ia gostar disso.

LEANDRO
Ah, mas ela não precisa ficar sabendo. Eu não conto que você me soltou. Eu falo que eu consegui escapar sozinho. Você não é dessas coisas, Cla. Você é a maior gente boa. Ela que mexeu com a sua cabeça. Quando eu te conheci você era super gente boa.

CLARISSA
É que dá raiva desse mundo, Le. Não é justo, sabe? Não é justo a gente ter que aguentar algumas coisas. Os homens enganam a gente o tempo todo. Recebendo salários maiores, matando as nossas irmãs. Eu não aguento de raiva. Não é pessoal, sabe? Olha só, você tá até sem bafo!

LEANDRO
Eu chupei uma bala.

CLARISSA
Hum. Halls?

LEANDRO
Pois é.

CLARISSA
Tá querendo beijar na boca, é?

LEANDRO
Nunca se sabe.

CLARISSA
Cafajeste.

(silêncio)

CLARISSA
Se você prometer não contar pra Andreia eu posso realizar esse seu último desejo de te dar um beijo. Só um beijo. É que você é muito bonitinho pra morrer sem um beijo. E todo mundo merece ser beijado antes de morrer.

LEANDRO
Morrer?

CLARISSA
Sim, a Andreia acha que você tem que morrer. Eu concordo com ela. Mas acho que ninguém merece morrer sem ser beijado antes. Você quer?

LEANDRO
Claro que quero. Eu ia adorar beijar você.

CLARISSA
Então tá bom. Vai ser nosso segredinho, tá? Só porque você é bonitinho e canta bem.

LEANDRO
Com certeza.

(Clarissa dá um selinho seco em Leandro)

LEANDRO
Ah, assim? Com as mãos amarradas? Não posso nem fazer um carinho no seu cabelo.

CLARISSA
Você quer fazer um carinho no meu cabelo?

LEANDRO
Ah, eu queria, né? Já que vou morrer, seria bom fazer um cafuné enquanto eu desse meu último beijo.

CLARISSA
Você perece ser meio romântico mesmo. Nem todo homem é assim, sabia?

LEANDRO
Eu sou. Eu sempre comprei presentes pras minhas namoradas, levava tomar sorvete.

CLARISSA
Que fofo.

LEANDRO
É assim que eu sou. O meu verdadeiro eu.

CLARISSA
Tá bom. Eu vou te soltar um pouquinho. Mas depois você volta pra cadeira, tá bom?

LEANDRO
Com certeza absoluta.

(Clarissa solta Leandro; rapidamente Leandro segura Clarissa pelo pescoço com violência)

CLARISSA
Ai! O que você tá fazendo, Le?

LEANDRO
Sobrevivência, bebê.

CLARISSA
Não! Não! Não!

(Leandro apóia Clarissa de costas em uma mesa e a estupra violentamente)

(black-out)


CENA FINAL

(Andreia canta em um foco; Clarissa aparece ao fundo caída)

ANDREIA
Você disse que melhora, que com o tempo vai passar
Diz que é pra eu me sentir forte
Que eu tenho sorte, que vai melhorar
Mas me diz o que você viu? O que você viu?
O que caralho você sentiu? O que você viu?

Até ser com você
Você não olhou e não sentiu, o que você viu?
Até ser com você
Você não olhou, o que você viu?
Quem foi que viu? Quem foi que sentiu?

Você me fala em exagero
Que é frescura, que vai passar
Que quando cai você levanta
Que é tão fácil pra melhorar
Mas como é que eu posso andar com você me olhando?
Ele está no meu caminho
Me perseguindo

Até ser com você
Você não olhou e não sentiu, o que você viu?
Até ser com você
Você não olhou, o que você viu?
Quem foi que viu? Quem foi que sentiu?

Até seu mundo ser violado
Até você sentir a corda estourar
Até você ver como foi
Eu não quero ouvir o que você achou, pensou, falou
Você não viu

Até ser com você
Você não vai saber o que eu senti
Até ser com você
Você não olhou, foi eu quem senti
Quem foi que viu? Quem foi que sentiu?

Até ser com você

LEANDRO
A gente não pode estragar todo o saco de batata porque uma ou duas batatas são podres, entendeu? Entendeu? Deu pra entender? Na minha sobrevivência, o que eu fiz serviu como um corretivo! Eu também sou gente e eu também me vingo! (pra alguém da plateia) Quer ir lá na minha casa praticar um sexo animal, sensual e violento, agora, não amanhã, nesse instante, de primeiro encontro, assim, bem pertinho de mim? Quer? Eu não sou estuprador. Quer? (pausa) Puta!

(Leandro sai)

ANDREIA
A piadinha ajuda homens como ele. "Mulher no volante, perigo constante. O pé da mulher é menor pra ficar mais perto do tanque". Etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc! (pausa) Ela não teve chance de defesa. Talvez a força daqueles gramas de músculo a mais ajuda quando a violência é o forte principal. (silêncio) Ela não teve chance nenhuma de defesa. Ela nunca vai ter chance de defesa. (pausa) Agora você olhou. Você viu. Você viu. Você viu? (silêncio) Quer que eu acenda um cigarro pra você, Clarissa?

CLARISSA
Por favor, eu quero sim.

(as duas fumam em silêncio enquanto a luz cai)

(black-out)

FIM



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